domingo, 3 de setembro de 2023

Década de 60: métrica ou exceção?

O debate sobre o G7 do Nordeste é um dos mais quentes do lado setentrional do Brasil. Nos últimos anos o futebol cearense cresceu ao ponto de fazer que dúvidas e até mesmo certezas fossem formuladas na mente de muitos intelectuais e torcedores comuns, em especial com o Fortaleza ultrapassando alguns clubes que antes eram vistos acima no senso comum. O Náutico é um dos elementos mais falados, com uma ampla valorização das marcas do clube nos anos 60 pelos alvirrubros e uma desvalorização de rivais ao falar do extrato do clube antes e depois da década de 60. Observando os debates, me reparei o quanto a fonte de forças vem da era de ouro do clube, que durou 6 anos. Mas, para o Náutico, de seus 122 anos de vida, 118 de vida futebolística e quase 100 de profissionalização do futebol, os anos 60 deve ser tão tratado como uma métrica para o seu peso histórico institucional?

A tradição e o peso de um clube é baseado em conquistas, contextos, marcas, pioneirismos, relevâncias com expansão de geografias, longevidade, popularidade, rivalidade e todos os demais aspectos, grandes, médios e pequenos, além de que não podemos esquecer que aspectos negativos também entram na conversa, pois o futebol é uma balança de dois extremos, sendo rebaixamentos, secas, coadjuvância, impopularidade, jejuns, falta de conquistas e muito mais são características que podem ser tão pesadas quanto títulos, todavia do extremo contrário. Quando se fala do Náutico e de qualquer clube, é preciso medir seu tamanho e principalmente comparado a outras instituições num modo geral, com contextos e pesos, afinal, se é pra falar de "maior", deve-se considerar a história completa, pois "melhor" é o contemporâneo, "maior" é o ontem e o hoje.

Foto: Arquivo/Jornal do Commercio

O futebol é atuado no clube desde 1905 e na levada dos efeitos positivos da Federação Brasileira de Football no país, o clube se profissionalizou na década de 30, com direito ao seu primeiro título pernambucano em 1934. Até a profissionalização, os recifenses viram um cenário onde já existia a tradição e títulos de alguns clubes, como o Santa Cruz que vinha de um tricampeonato, o Torre que acumulava 3 títulos, o América que era uma referência pernambucana além das fronteiras maurícias e o Sport, já sendo o maior campeão há uma década, com 7 troféus no total.

Desse período até antes do ano de 1963, que é onde inicia-se a era onde queremos identificar se é uma métrica ou uma exceção na história do clube, o cenário era de coadjuvância no quadro títulos, pois o Náutico contava com 8 conquistas, contra 19 do Sport e 9 do Santa Cruz. Fora do estado seu nome institucional brilhou com 7 convocações para o Sul-Americano de 1959, onde a Seleção Pernambucana representou o Brasil, contanto também com 10 atletas tricolores e 5 rubro-negros. Outro ponto fora da geografia pernambucana foi quando o timba conquistou um título que ainda não é reconhecido pela CBF como oficial, mas que na época foi bem acompanhado pela mídia do eixo Norte do país, o Torneio dos Campeões do Norte-Nordeste 1952, organizada e bancada pelo próprio clube, que venceu o América-RN na semifinal por 5 a 4 e a Tuna Luso/PA por 5 a 1 na final.

Chegando os anos 60, a década de ouro alvirrubra, é onde se encontra tudo aquilo que o clube mais se orgulha, se inspira e até mesmo mora. Após começar o decenário vendo o maior rival sendo bicampeão, o clube conquista o Campeonato Pernambucano por 6 vezes consecutivas, feito jamais igualado, com direito a 4 finais vencidas sobre o Sport, incluindo um placar de 5 a 1. A sequência fez o timbu ultrapassar o Santa no quadro de títulos, 14 a 9 e diminuindo a vantagem do Sport, 14 a 19. Nacionalmente, das 8 edições da Taça Brasil, a equipe participou de 6, com direito a 4 semifinais e um vice-campeonato, além de vitórias marcantes que forjaram o nome institucional nacionalmente, como diante do Santos de Pelé, academia do Palmeiras, Atlético-MG e Cruzeiro. Pelo Robertão, disputou uma edição, em 1968, sendo o saco de pancadas e lanterna geral, já no Torneio Norte-Nordeste, participou em duas oportunidades, sem brilho em ambas. É essencial lembrar que dentro da Taça Brasil havia a fase inter-regional, uma disputa norte-nordestina que dava um título anexo, a Taça Norte, onde o Náutico sagrou-se tricampeão entre 1965 e 1967, sendo ao lado do Bahia o maior vencedor do certame. Já fora do país, tornou-se o primeiro clube de Pernambuco e segundo do Nordeste a disputar a Libertadores, quando em 1968 foi eliminado na fase de grupos. Outro orgulho importante para os alvirrubros foi a convocação de Nado, o primeiro atleta da região a servir a amarelinha na era aberta.

Logicamente o Náutico não teve os 10 anos de soberania no que se refere de 1961 a 1970, mas ninguém conseguiu tanta relevância, títulos interestaduais, participação em Libertadores e convocação como o clube obtive entre 1963 e 1968. Até ali, já podia ser listado 63 anos de futebol no Náutico e até 1968 tudo aquilo era novo e o sentimento que o torcedor sentia e vivia na ocasião, outros das demais gerações nunca sequer tinham chegado perto de sentir. Vamos para 2024, se passando 56 anos desde o fim da era de ouro e a partir desse ponto devemos analisar o que foi e está sendo o Náutico, se o seu extrato total diz mais sobre o seu auge ou sobre a coadjuvância que perdurou décadas antes de 1963.

O futebol brasileiro passou por várias modificações como modelos de disputa, de administração, impactos da globalização, criação de novas competições, mudanças na sociedade que ditaram outras eras e ritmos e tantos outros fatores que caminharam juntos com o esporte e que estiveram e estão no cotidiano dos clubes. Quando se debate sobre o tamanho do Náutico, se é maior ou menor que clube x, se é digno ser colocado numa prateleira acima ou não, tratam da forma certa quando citam os anos 60? Estão supervalorizando ou subestimando? Já vimos o bloco 1905/1934-1963/1968, agora veremos 1968-2024, para no fim pôr tudo numa balança e definir se no geral a década de 60 é regra ou exceção.

O Brasil é um país de dimensões continentais e além de sua geografia ampla, a cultura do futebol brasileiro tem em cada competição zonal um valor que dita o tamanho do clube. Ter feitos nacionais é o diferencial, mas sucessos estaduais e regionais também emitem a tradição. Bahia e Sport por exemplo, clubes campeões brasileiros, melhor, com 2 conquistas nacionais cada, para manter suas imagens grandiosas no país precisam garantir soberanias em seus estados e se estabelecerem na disputa por títulos regionais, se colocando no topo do ranking dos maiores da Copa do Nordeste. Os dois maiores fora do eixo Sul/Sudeste mesmo com títulos e/ou finais em Taça Brasil, Brasileirão, Copa do Brasil e Copa dos Campeões, não são - na média - clubes de chegadas pelas cabeças de forma constante em todas décadas, portanto, se manter na elite com alguns brilhos um lá outo cá e paralelamente a isso sustentar um reinado indiscutível em seus eixos, como ocorre na BA e em PE, é primordial pro conceito métrica.

O Campeonato Pernambucano teve diversas mudanças de valor com o passar das décadas, mas na enorme massa desse recorte sendo valorizado ao extremo, diferente de como é nos dias atuais. Porém, independente dos pesos, o Náutico repetiu o aspecto entre os 58 anos de futebol antes de 1963, com o clube sofrendo números massacrantes. Enquanto o timbu levou apenas 10 Pernambucanos entre 1969 e 2024, os corais venceram o dobro, foram 20 taças no Arruda e tudo só piora quando são apresentados os números leoninos, que levantaram o troféu em 24 oportunidades. Em 11 décadas, o Náutico foi o maior campeão isolado apenas em uma, exatamente nos anos 60, atrás de Santa Cruz com 4 décadas de domínio e o Sport com 5.

Regionalmente, a Copa do Nordeste é a competição dos nordestinos. Em 2024 teremos a 21ª edição, sendo a 15ª do timbu desde 1994. O clube é único do considerado G7 do Nordeste a nunca ter sido campeão e o agravante é que nunca sequer disputou o título, com sua maior longevidade as 4 semifinais disputadas em 2001, 2002, 2019 e 2022. Diferente do timbu, equipes consideradas de menos tradição como Botafogo-PB, ASA, Fluminense de Feira e Campinense disputaram finais. E pra piorar o cenário, em 2013, 2016 e 2021 o time não conquistou uma das três vagas de Pernambuco, que teve o Salgueiro como terceira força nas três temporadas.

Nacionalmente, das 55 edições do Campeonato Brasileiro, o clube participou 27 vezes da Série A, 23 vezes da Série B e 5 vezes da Série C. Ou seja, tecnicamente é 50% do tempo participando da elite e 50% fora, com o agravante de permanecer na segundona em alguns anos quando era uma divisão considerada o fundo do poço e também na Série C, já sendo calabouço do futebol brasileiro. Em nenhuma das edições da Série A o Náutico conseguiu uma campanha com destaque nacional, tendo seus sucessos internos resumidos em permanências e seu auge com uma 12ª colocação em 2012, classificando-se para a Copa Sudamericana, onde foi eliminado no Clássico dos Clássicos logo na estreia do certame da Conmebol. Considerando o Brasileirão com métricas nacionais, a partir de 1988, sem ligação com os estaduais, com os clubes precisando impor suas forças, totaliza-se 37 anos de disputas, com o Náutico estando 70% do período fora da elite, sendo 11 disputadas na Série A, 21 na Série B e 5 na Série C.

Pela Copa do Brasil, conta-se 28 participações do Náutico em 36 edições e em toda conjuntura desde 1989, o único episódio de sucesso foi a semifinal em 1990, com vitórias sobre o Treze, Ceará e Remo, antes da eliminação contra o Flamengo. Naquele ano, o time contou com o artilheiro da taça, Bizu, com 7 gols. Em 2001 participou da Copa dos Campeões pela liderança da 1ª fase do Nordestão, sendo eliminado logo na fase de grupos por Paysandu e Fluminense.


Nesse período pós-1968, o clube acumulou alguns feitos que servem como tatuagens, positiva e negativamente. Em 2010, a FIFA premiou o Clássico dos Clássicos como uma Rivalidade Clássica, pondo o derby numa categoria onde encontra-se Manchester x Liverpool, Roma x Milan e Celtic x Rangers. Em 2013, o gol do atacante Olivera foi listado para concorrer ao Prêmio Puskas, da FIFA e houve a convocação da sua cria da base, o lateral-esquerdo Douglas Santos, chamado pelo técnico Felipão. Em 2014, o CT Wilson Campos foi um dos centros oficiais da Copa do Mundo. Porém, duros golpes ocorreram também, como a Batalha dos Aflitos, que passou um carimbo de fracasso nacional pro clube; o maior tabu da história de um clube brasileiro em finais contra o rival (53 anos sem títulos contra o Sport nas últimas 10 finais disputadas); anos sem sua identidade, longe dos Aflitos, atuando na Arena Pernambuco; o Estádio dos Aflitos tornou-se um templo atrasado e violência; perda do selo de clube de participação na elite nacional; baixa popularidade, como aponta as pesquisas de diversos veículos desde 2010; baixa média de público; e os episódios de vexames em campo e fora dele nas gestões Melo & Braga.

Particularmente, acho que a década de 60 é mais um desvio que uma regra nessa curva centenária. Nos quesitos popularidade, títulos, protagonismo, constância, relevância na variedade de eras, épocas e modelos e peso político além de suas fronteiras, o Náutico é extremamente mais próximo da coadjuvância e insucesso das épocas pré-1963 e pós-1968 do que metade do que realizou entre 1963 e 1968, pois domínio estadual, títulos ou pelo menos disputas regionais e poder de chegada nacional nunca foram vistas, nem sequer ao menos um desses aspectos. O Pernambucano se tornou essencialmente uma briga entre Sport e Santa Cruz e a Copa do Nordeste que está presente nas décadas de 90, 2000, 2010 e 2020 nunca teve o Náutico como figura finalista. No Brasileirão, o alvirrubro dependeu muito dos estaduais para poder sustentar o selo de elite - ou seja, o Náutico é um clube de raízes estaduais, com as próprias pernas nunca conseguiu ser ao menos um clube regional - mas assim que o torneio passou a ser de fato elitizado nacionalmente, acabou caindo de prateleira, ao ponto de chegar a viver 70% de seu tempo entre as Séries B e C. O time que contava com crias como Nado e Bita, não conseguiu mais revelar atletas que colocassem o time num patamar ao menos de domínio recifense. A popularidade que a era de ouro gerou, ao ponto do número de torcedores crescer até chegar ao "povão", foi se descontruindo com a gangorra da construção de tabus e secas e sucesso dos rivais, com direito a sequência, como anos 70 com o Santa, anos 80, 90 e 2000 com o Sport e anos 2010 com Santa e Sport. 

Outros fatores fora das terras pernambucanas são agravantes. O Náutico não possui nenhum tipo de disputa, rivalidade ou vínculo esportivo com clubes de fora do estado. A falta de disputa por algo relevante regional e nacional fazem o clube ser um mero participante de uma Série A cá, outra lá e de um mero cumpridor de calendário do Nordestão. E pra piorar, quando selou uma rivalidade interestadual, foi por um cenário polêmico na Série C, contra o Paysandu. Usando um exemplo positivo em Pernambuco, temos o Sport, que acumula episódios de rivalidades dentro e/ou fora de campo com Bahia, Vitória, Ceará e Fortaleza no Nordeste e nacionalmente com Flamengo pela exclusividade de um título brasileiro, ao ponto dos cariocas agendar uma reunião com a sua cúpula por achar um problema que seu uniforme estava parecido com o do Sport, o Corinthians por uma final de Copa do Brasil, o Grêmio por final de Copa do Brasil e mata-mata de Brasileirão e o Palmeiras, por diversos confrontos lendários como mata-mata de Copa do Brasil e Libertadores, final de Copa dos Campeões, abertura do Allianz Arena e vitórias lá e lô e jogos polêmicos pela Séries A e B. Externamente o Náutico acumula mais dois insucessos em vínculos com entidades, como o Clube dos 13 e a Liga Forte Futebol, onde ou não consegue se filiar, ou não consegue o que deseja no acordo. E por diversos elementos, sua referência política (força ou fraqueza) fala muito do seu tamanho.

A rivalidade é um fator que forja grandeza. São Paulo e Santos são clubes imensos, mas o "selo" de 'O Jogo do Estado' que o clássico Corinthians x Palmeiras tem é digníssimo, algo parecido com Santa Cruz x Sport, que é de fato 'O clássico' de Pernambuco. E atualmente, meio a uma década, o Sport vem tendo de forma institucional e popular um grau de rivalidade maior com Bahia, Ceará e Fortaleza que com o Náutico e mesmo o Santa Cruz passando pela - na minha opinião - a pior fase de um clube tradicional no país, a rivalidade mexe com as duas maiores nações pernambucanas, com faixas provocativas em semanas de jogo pelo "galeto" e tudo.

Ao ler, ouvir e assistir muitas resenhas do clube nos últimos anos, em relação a jogos, contratações e outras ações, nota-se um exagero sustentado pela tese "a camisa do Náutico é maior que isso". O Náutico representa milhares de pessoas e só isso basta para uma forte cobrança, sem falar nos marcos do clube, mas sim, existe uma cobrança por mudanças e conquistas de algo que o clube nunca foi. O fato é que o Náutico possui uma enorme característica de inconstância, coadjuvância e selo "participei", isso mesmo, não é mais problema e sim característica, pois tornou-se uma marca. O clube que em seu suco histórico é um participante nacional (e deixou de ser desde a nacionalização dos torneios), espectador regional e coadjuvante estadual talvez deu aos olhos do seu povo uma ilusão. O Náutico, em sua média história (1901-2024) não é do tamanho que se fez entre 1963 e 1968, pior, possivelmente nem metade disso no futebol. E pra piorar, vive uma fase que depois de muito tempo volta a ser constante, mas essa constância é com a seta virada pra baixo.

Esse texto é fruto da problematização que o vídeo Nordestinado #1 - A ascensão do Fortaleza, do canal Click Esportivo me fez ter. É certo um clube ser considerado tradicional ou grande, e de ser cobrado por sua "camisa" com os dedos apontados pro seu auge, mesmo que ele seja instalado em apenas 9 dos 119 anos de futebol na instituição?

sexta-feira, 7 de julho de 2023

1968: O gol do Hexa alvirrubro e suas avalanches de efeitos pró Sport meio a política de bastidores

Em 1968, o Campeonato Pernambucano iniciava-se com fortes expectativas e um grau de importância imensa. O Sport que vinha de montagens de bons times e planos de reestruturação da Ilha do Retiro, buscava voltar a ser campeão estadual após alguns anos batendo na trave, enquanto o Náutico, em seu momento mais técnico e brilhante de toda sua história, almejava o sexto título consecutivo na competição, que estava muito longe de ser apenas o "galeto" como é atualmente.

Ramos marca o gol da glória do Náutico e do destino glorioso do... Sport.
Imagem: Arquivo/Diario de Pernambuco

Entre 1959 e 1968, foi disputada a Taça Brasil, uma competição nacional que reunia todos os campeões estaduais do ano anterior, contanto com representantes de todos estados filiados e dentro de um padrão de profissionalismo do futebol que a entidade máxima do país indicava. Em 1967, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Rio-São Paulo, passou a receber clubes de de RS, MG e PR, assim sendo chamado popularmente de "Robertão". O torneio foi um sucesso de público e financeiro, fazendo que a CBD passasse a oficializá-lo no calendário nacional oficial e organizando a competição, que antes era comandada pelas federações de São Paulo e da Guanabara. 1968 marcou o ano da transição do novo modelo de disputa das competições nacionais. A Taça Brasil teve sua última edição, dando espaço para três novos torneios, com disputas regionalizadas, foram elas, o Robertão (eixo Sul do país), Torneio Norte-Nordeste (eixo Norte do país) e o Torneio Centro-Sul (eixo central do país). Ou seja, foram constituídos espécies de Campeonatos Brasileiros por região, o do Norte, o do Centro e o do Sul do país.

A Federação Pernambucana de Futebol era a representante da CBD no Norte/Nordeste e tinha como presidente, uma figura de forte influência e poder de bastidores, Rubem Moreira. Já no estado da BA, o Esporte Clube Bahia contava com Osório Villas-Boas, político, inspetor policial e grande magnata eleitoral e futebolístico. A dupla entrou em guerra com a CBD para que PE e o Bahia participassem do Robertão, certame que vinha de um altíssimo status. Com possibilidade de boicotar o Torneio Norte-Nordeste e escancarar de vez pra todo o Brasil o quanto a CBD destratava todo o resto do país e valorizava apenas o eixo Sul, os cartolas mostraram suas armas contra os líderes paulistas e cariocas e acabaram conseguindo suas vagas. Em PE, haviam três clubes de massa e forte poderio, portanto, a FPF optou em indicar o seu representante através do título pernambucano, já na BA, como o Bahia era o grande dominante político do estado, criou-se uma "ditatura tricolor", com o clube disputando as três edições do Robertão, mesmo que não fosse campeão baiano, até mesmo quando nem vice-campeão era. Com três vagas para competições nacionais, a FPF decidiu optar por seu campeão estadual disputando o antigo Rio-São Paulo, enquanto o vice-campeão e terceiro colocado disputaria o Norte-Nordeste.

Iniciada a 54ª edição do Campeonato Pernambucano, o favoritismo era dividido entre leão e timbu, o primeiro que tinha um forte time e sempre chegava nas finais, além de contar com atletas que o exterior consultava, já o rival vinha de cinco títulos e era naturalmente um forte candidato. Contando com resquícios finais do time que brilhou no estado, região e país com Nado, Bita, Lala, Gena, Ivan e outros, a final seria disputada em melhor de pontos em dois jogos. O Náutico venceu a ida por 1 a 0 com gol de Ramos, que posteriormente viria a fazer o gol mais importante da história do Náutico para muitos alvirrubros. No jogo de volta, o clube da Rosa e Silva precisava apenas de um empate para fazer a volta olímpica na casa rival, mas os leões venceram por 3 a 2, obrigando a ocorrer a 'negra', termo como era chamada a última partida, que ganhava o status de 'melhor de três'.

Lance do PE 1968: Rato, hexa-campeão estadual e Gilson, campeão brasileiro do Norte posteriormente
Imagem: arquivo/Diario de Pernambuco

No dia 24 de Julho de 1968, num Aflitos abarrotado de alvirrubros, rubro-negros, tricolores e alviverdes (América), um 0 a 0 marcado por expulsões, muita técnica e até mesmo lesão do árbitro, a partida finalizou, indo para a prorrogação, onde aos 16 minutos, Ramos escora pra dentro com o pé direito após belo lançamento de Ede para a pequena área. Era o Náutico sagrando-se hexa-campeão pernambucano, feito único em toda história do estado e classificado para o Robertão, o Campeonato Brasileiro do Sul. E o Sport, que ficou com o vice, acompanhado do Santa Cruz, que completava o pódio, disputaria o Torneio Norte-Nordeste, o Campeonato Brasileiro do Norte.

Confira os detalhes daquela final e o gol de Ramos, o gol do Hexa e da classificação do Náutico para o Robertão e consequentemente do Sport para o Torneio Norte-Nordeste:


Dando sequência a temporada, os clubes se organizavam para as disputas dos torneios nacionais, os quais mesmo contanto com diferente questões financeiras e de status, possuíam a mesma finalidade de destino, com os campeões de cada uma delas se encontrando para disputar o Torneio dos Campeões da CBD, que seria definido o campeão brasileiro nacionalizado e o detentor da vaga para a Libertadores. Náutico e Santa Cruz fizeram campanhas modestas nos Campeonatos Brasileiros do Sul e do Norte, respectivamente, diferente do Sport, que transformou o gol de Ramos numa passagem de conquista para o seu primeiro título nacional.

Para entender mais o que foi o Campeonato Brasileiro do Norte e a metodologia da temporada nacional de 1968, leia o Guia do Dossiê para Unificação do Torneio Norte-Nordeste ao Brasileirão.

O time rubro-negro não conquistava um título desde 1962, temporada que levantou os troféus do Pernambucano e o inter-regional da Taça Norte e vinha de 4 vices em finais do estadual. Com fome de títulos, a equipe do ídolo Baixa, o talentoso uruguaio Henrique Câmpora e o artilheiro Fernando Lima encarou a competição com muita responsabilidade e sede ao pote. O Campeonato Brasileiro do Norte era constituído com duas chaves regionais, a Norte e a Nordeste, sendo cada uma delas valendo anexamente o título regional, similar a Copa Norte e a Copa do Nordeste hoje. Com direito a 14 vitórias em 18 jogos, o Sport liderou o seu grupo na primeira fase e foi o primeiro colocado no quadrangular final, conquistando o Nordeste após goleada no Clássico das Multidões por 4 a 1, numa Ilha do Retiro lotada e invadida pelos alegres torcedores. Na outra chave, o Remo sagrou-se campeão do Norte e classificado para a final. O Sport passou por cima, fazendo 3 a 1 em Belém e 2 a 1 no Recife, conquistando o seu primeiro título de expressão nacional, numa disputa inter-regional. E de novo com uma Ilha invadida pelos fanáticos, levantava um troféu da CBD, se sagrando campeão brasileiro do Norte e aguardando os demais campeões brasileiros do eixo Sul, Centro e do Torneio de Campeões Estaduais (antiga Taça Brasil) para disputar o título brasileiro máximo e a vaga para a Libertadores.

Pois bem, vejamos como o futebol é repleto de reviravoltas e destinos traçados. Um vice-campeonato deu ao Sport uma semente que traria como fruto um título nacional. Além disso, o alto preço de um poder político. O Náutico, que vinha de um vice da Taça Brasil e que disputou a Libertadores naquele mesmo ano, limitou-se seu futebol no Robertão e perdeu a chance de disputar um título mais factível, o qual não era fácil, pois o timbu disputou as edições do Torneio Norte-Nordeste de 1969 e 1970 e nem sequer chegou perto das finais, enquanto a falta de poder político do estado do CE fez que seus clubes, assim como o Sport, conquistassem títulos brasileiros do Norte. Durante anos, CE e PA brigavam ferrenhamente pela participação no Robertão, o que não ocorreu, assim, Ceará e Fortaleza disputaram as demais edições e fizeram o Náutico assistir o vozão ser campeão em 1969 e o tricolor vencedor em 1970. O Santa Cruz, que não foi bem na única edição do Norte-Nordeste que disputou, foi bicampeão pernambucano em 1969 e 1970, ganhando o direito de disputar o Robertão, porém, sem sucesso em campo.

Baixa, ídolo e lateral-direito do Sport em 1968 com o troféu do Brasileirão do Norte
Imagem: divulgação/Diario de Pernambuco

Mas o caso mais concreto e direto das consequências políticas foi no Bahia. Diferente do que muitos acham, o estado da BA não teve vaga no Robertão e sim o próprio EC Bahia. Se a CBD implementasse o mesmo modelo de PE para Federação Baiana, o representante baiano no Robertão de 1968 seria o Galícia, campeão do estadual que teve o Bahia como 4º colocado, atrás do Fluminense de Feira e do Vitória. Já em 1969, o representante seria o Fluminense de Feira. Nas três edições do Robertão, o Bahia acumulou eliminações, incluindo status de "saco de pancadas" e lanterna.

Esse detalhamento histórico sobre o processo político mostra como a decisão criteriosa da FPF faria que o gol de Ramos tivesse um valor muito além do Campeonato Pernambucano. O gol do Hexa, o gol do Luxo, o gol do Robertão pro timbu e o gol do título brasileiro do Norte para o leão.

sábado, 7 de janeiro de 2023

A subestimação de critérios relevantes no debate de quem é maior

"Meu time é melhor que o teu", "até time tal é maior que o teu". O futebol tem vários pilares e um dos seus melhores aspectos são as conversas de mesa de bar, aquelas onde o maior time do mundo sempre será o próprio e que independente do argumento, seja fato ou vazio, ninguém convence ninguém. O tema de quem é maior X ou Y apresenta muitas cartas pra cada baralho, porém existem umas que seriam coringas na jogada e que por diversas ou quase todas as vezes nunca são usadas, visto em muitos debates em redes sociais por torcedores e até mesmo por jornalistas e historiadores renomados.


Dando exemplo, no Nordeste existe aquela resenha de quem é o maior, Esporte Clube Bahia ou o Sport Club do Recife. No fundo é um debate subjetivo levando em conta pontos objetivos e sempre são apontados aqueles populares critérios: títulos, torcidas, estruturas, campanhas e números em competições nacionais e internacionais e confrontos diretos, contudo como posso deixar de lado pontos tão ou até mais relevantes que alguns tradicionais? Ainda usando o Superclássico do Nordeste, o Clássico da Imponência nordestino como exemplo, veja a quantidade de "cartas" que tricolores e rubro-negros deixam passar no dia a dia:

Tricolores:

- Já coloquei dois atletas em campo simultaneamente na era aberta da Seleção Brasileira
- O Ba-Vi foi o primeiro clássico do Nordeste a entrar no hall de Classic Football da FIFA
- Fui o primeiro e um dos dois únicos a vencer o Santos de Pelé em finais nacionais, antes mesmo do Cruzeiro de Tostão
- Venci as edições mais emblemáticas da Copa do Nordeste
- O GreNal é a maior rivalidade do país e eu fui vitorioso no último capítulo do embate conhecido como o maior do século
- Sou o primeiro campeão brasileiro da era elitizada do Campeonato Brasileiro
- Revelei o maior campeão da história desse esporte
- Fui o único clube fora do eixo Sul a participar de todas edições do Robertão por influência e peso no meu estado
- Fui um dos fundadores do Clube dos 13
- Ninguém teve mais artilheiros em competições nacionais no Nordeste que eu

Rubro-negros:

- Sou o único clube do Norte, Nordeste e Centro-Oeste a sediar uma Copa do Mundo
- Sou o único clube fora do G12 a ser premiado como Classic Club da FIFA
- Sou o único clube a revelar dois artilheiros de Copa do Mundo e revelei o maior artilheiro sul-americano em uma edição de mundial
- Fui o primeiro clube fora do eixo RJ-SP a participar da International Soccer League
- Sou o líder em convocações para a Seleção Brasileira seja na era geral ou era aberta
- Somos o 6º clube do mundo, 3º do continente e único norte-nordestino a vencer o FIFA Fan Awards
- Sou o clube que mais disputou finais nacionais de torneios diferentes (Brasileirão, Copa do Brasil e Copa dos Campeões)
- Meu treinador já foi comandante da Seleção Brasileira simultaneamente
- Sou o único campeão da Copa do Brasil fora do eixo Sul
- Fui o primeiro clube do Nordeste a ser campeão em todas as 4 esferas do país (estadual, regional, inter-regional e nacional)
- Foi um atleta do meu time que fez o gol mais rápido da história da Seleção Brasileira

Esses e tantos outros apontamentos são importantes para dois grandes fatores: forjar instituição e torcedores e alimentar a tradição e continuidade nacional de seu clube.

O futebol brasileiro está caminhando para completar 100 anos de profissionalismo e já possui mais de um século em disputas. Como podemos ignorar que os feitos e marcas do passado e envolvendo todos os detalhes não são primordiais para a grandeza de um clube? Outro ponto também muito relevante é que pra medir a diferenças de clubes não são somente os pontos positivos, mas os negativos. E um dos grandes exemplos nacionais dessa mistura é a Associação Atlética Ponte Preta. A macaca não possui títulos tradicionais em sua história e isso é um imenso agravante, todavia você não acha justo apontar como uma instituição que forjou o poder do Brasil para o mundo quando se vê que a Seleção já disputou 2 Copas do Mundo com 5 atletas alvinegros? Quantas vezes essa "carta" é jogada na mesa? E o que dizer da Associação Portuguesa de Desportos? Um dos maiores clubes do país no inicio do século 20 e que era sempre uma das grandes potências do Torneio Rio-São Paulo na época em que o certame tinha status de Campeonato Brasileiro.

No Nordeste vemos o atual crescimento do futebol cearense, com algumas marcas pioneiras e que não costumam serem populares em todo esse tempo, como G4 nacional e participações em Libertadores. Esses pontos fazem que parte da torcida do Fortaleza Esporte Clube e da imprensa, em especial a alencarina frisarem que o clube já é maior que Ceará, Náutico, Santa Cruz e Vitória, além de que o futebol cearense já ultrapassou ou está próximo de ultrapassar Pernambuco. Seja no debate entre os clubes ou entre os estados, existem muitos pontos que também são desconsiderados e que são muito maiores do que outros mais falados.

Como posso deixar passar que o trio de ferro do Recife dos anos 1940 aos anos 1990 criaram, bancaram, idealizaram e batalharam por torneios de cunhos regionais como as competições de 1948, 1951, 1952 e a tentativa da volta do Torneio Norte-Nordeste em 1980? Lembrando que a Copa do Nordeste é um dos fatores para a reintegração nacional de Alagoas e Ceará, essa que foi uma batalha política com Bahia e Pernambuco tendo as principais armas e influencias para sua sobrevivência entre o final do século 20 e inicio do 21. Como posso deixar de falar nas convocações para a seleção brasileira que Bahia, Náutico, Santa Cruz, Sport e Vitória acumulam? Ou vamos fingir que isso não molda nacionalmente? Que isso não forja clubes, torcidas e olhares da imprensa para aquele clube ou eixo? E no debate entre centros, o que falar de Bahia e Pernambuco terem sido as únicas federações fora do eixo Sul a disputar o Robertão e a sustentar a já baixa "dignidade" do Torneio Norte-Nordeste (1968-70)? E o que dizer dos estados que representaram a Seleção Brasileira? Com destaque para Pernambuco que disputou de forma oficial, ficando em 3º lugar na Copa América de 1959, atrás apenas de Uruguai e Argentina. Então fica claro que é subestimado muitos fatores que de fato sustentam pra hoje estarmos aqui podendo debater, pois se não fosse todos esses pontos abordados pelo blog, era muito possível que os pontos objetivos mais populares e citados nem tivessem existidos. Bahia e Sport foram campeões nacionais em 1959, 1987, 1988 e 2008 não apenas por terem bons times num certo torneio, atrás disso houve uma construção institucional vinda de pioneirismos, marcas e feitos em excursões e tantos outros aspectos impopulares que elevam a região e refletindo em rivais. Quando se fala em grandeza no Nordeste, logo se aponta para a dupla campeã elitizada, e isso é justo, mas talvez esse não aprofundamento de tanto outros pontos magníficos além das taças façam os seus próprios torcedores não enxergarem as ainda mais longevas grandezas dos clubes.

Indo para o Centro-Oeste, o Goiás Esporte Clube é apontado por seus imensos vices-campeonatos e selo de elite. Ok, isso já é grandioso, mas o clube tem seu poder de mercado, de revelações e de furar a bolha de torcidas corintiana e flamenguista para se tornar popular e quase um sinônimo de futebol no estado de Goiás, assim como o Bahia na Bahia. Quantas vezes tivemos esse olhar para o esmeraldino?

E no Rio de Janeiro? O que é o Botafogo? Um time bicampeão brasileiro, campeão da Copa Conmebol, com a menor torcida entre os grandes e com forte ligação com a Seleção em mundiais, mas só isso? O brilhantismo do Botafogo em seu auge formou um sentimento de Zico para que em jogos do Flamengo contra a estrela solitária fizessem o ex-meia ter mais fôlego e motivação para mostrar o seu melhor. Isso flamenguista, vai chamando o alvinegro de "irrelevante" e deixando de lado que o conceito de brilhos e glórias na mente do teu maior ídolo, que se deixou influenciar humana e futebolisticamente de forma positiva, nasceu pelos caminhos de Garrincha e companhia. Para Zico, o Botafogo foi o maior rival em sua vida como torcedor e devolver placares elásticos eram metas pessoais.

Quando se trata sobre o "Maior", deve-se apontar e nivelar todos aspectos, de todas épocas, contextos, positivos, negativos, ou seja, de forma literal a palavra 'tudo'. Assim como o Sport elevou a logística nordestina realizando viagens a carvão e não mais a lenha, assim como o Ceará que conquistou os torneios metropolitanos e forjou o sentimento de liderança, de imponência, isso são fontes de grandeza. Não é soberba, não é poeira, é criação de chão, de pista, de estrutura no ontem para que hoje você possa passar por cima. Não podemos confundir "melhor" com "maior" e nem esquecer que o tudo é maior e mais pesado do que o inicio de sua vida esportiva como profissional e/ou torcedor.

domingo, 29 de maio de 2022

Campeonato Brasileiro do Norte

O futebol brasileiro tem como sinônimo a bagunça, a politicagem, os atos contraditórios e claro, o escárnio. Um dos maiores de sua história, foi em 2010, quando numa canetada e em um dossiê que apresenta muita coisa legal sobre o século 20, mas que ignora 100% muitas verdades da época, fazendo que 4 títulos interestaduais fossem elevados para nacionais e ganharam o mesmo pelo da atual Série A do Campeonato Brasileiro.

Escudos dos campeões brasileiros do norte em suas épocas.

Realizei uma matéria que aponta a criação de países dentro do Brasil e outra matéria que define o conceito "nacional" aplicado dentro do futebol. Agora vamos explanar visões da época, em informações e opiniões de veículos de comunicação e cronistas dos estados de São Paulo, Guanabara/Rio de Janeiro e Pernambuco, que exibe os fatos de como a Taça de Prata (Robertão) não era nacional e sim um embrião, de como o Torneio Norte-Norte era seu paralelo e com mesma finalidade e como termos como "campeão brasileiro", "certame nacional" e "campeão do Brasil" já eram aplicados, mas referentes a Taça Brasil e não ao manjadinho do eixo sul. Entre 1967 e 1970, podemos dizer que de fato existiram dois cenários: 1. torneios interestaduais da CBD e 2. Campeonatos Brasileiros regionalizados da CBD, sendo qualquer um desses legítimos, diferente de diferenciar as validades entre Robertão e Norte-Nordeste, e mais do que tudo, pôr o Robertão no mesmo nível, peso e status do atual Campeonato Brasileiro da Série A.

Entre 1959 e 1968, rolou no país a Taça Brasil, competição que independente se a crônica gosta ou não, se clubes, federações e a própria CBD gostava ou não, era um nacional legítimo, por haver consultas e inclusão de todas federações, com critérios técnicos e que ao extremo fez que o avanço profissional e técnico em todas regiões ocorressem, inclusive sendo criada por conta da vaga pra Libertadores e que dava o título de campeão brasileiro ao seu vencedor, como o Bahia em 1959. Em 1966, o Cruzeiro venceu a edição com um show sobre o Santos de Pelé e cia. E claro, só aí paulistas e fluminenses percebem que existe algo de bom no futebol brasileiro fora de seus estados e fazem o Torneio Rio-São Paulo conter mais 3 estados convidados: Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, do campeão brasileiro de 66. E assim em 1967, morre o Rio-São Paulo e nasce o Robertão.

Sem precisar viajar pro norte do país, sem precisar ter que jogar na Paraíba, Pernambuco, Bahia, Ceará, Amazonas, Pará, Goiás, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Rio de Janeiro (não confundir com Guanabara), Santa Catarina, Maranhao, Pará, Piauí, Distrito Federal e Sergipe, o quinteto manjadinho faz seu campeonato interestadual que por seu prestígio financeiro e técnico, a CBD larga a Taça Brasil, boicotando a edição de 68, que viria a ser a última e no mesmo ano passa a cuidar do Robertão e junto a esse ato, cria dois torneios, os torneios dos restos, de quem ela pouco se lixava e se importava, o Norte-Nordeste e o Centro-Sul.

Diario de Pernambuco traz em 20 de dezembro de 1968, como a CBD boicotava o N-NE.

Nunca um torneio pode ter evolução com sua organizadora boicotando. Diario de Pernambuco

Bahia e Pernambuco eram federações fortes, de diretores influentes na política da CBD, além dos estados terem fortes ligações econômicas, históricas e federativas com o Brasil, inclusive já sendo representantes do país em torneios sul-americanos, como a Seleção Pernambucana disputar a Copa América de 1959 como Seleção Brasileira. Em 1967 a CBD não queria pôr nenhum convidado a mais fora dos 5 estados que disputou em 67, mas Osório Villas-Boas e Rubem Moreira eram vividos demais pra serem passados pra trás. Peitaram a CBD e ameaçaram que não teria representantes de BA e PE se não houvesse vagas pros estados no Robertão. A CBD cedeu, uma pra cada, lógico. PE tinha três grandes clubes e foi obrigado a dá a vaga pro campeão pernambucano nas três edições (imagine que o trio-de-ferro não conquistasse, o quanto fariam bagunça pra entrar no lugar de um Central da vida?), já na BA, o Bahia era o único clube de forte força política, além de ser o time do próprio Villas-Boas, o que fez que independente dos resultados do estadual - que por sinal o tricolor foi mal em alguns anos -  o Bahia foi quem disputou todas edições.

Em 15 de maio de 1968, o Diario de Pernambuco traz as brigas políticas onde a CBD buscava deixar os norte-nordestinos de fora do Robertão. Confira o material.

Os atos políticos foram muito além, como opinou o lendário cronista Adonias de Moura em 22 de  novembro de 1968 para o Diario, que deixou claro: "N-NE saiu da CBD imprensado pelo Robertão". Confira a matéria.

Estados como Ceará e Pará não tiveram a sorte de ser influentes políticos como Rubem e Osorios e nunca contaram com representantes durante o Robertão. 24 de dezembro de 1968. Diario de Pernambuco.

A Taça Brasil de 1968 perdeu valor pelo interesse dos clubes do sul apenas pelo Robertão e daí nasceu o boicote para o mapa nacional do futebol, onde a CBD priorizava apenas a Taça de Prata e infelizmente pra turma de baixo, tiveram que contar com um clube de BA e PE durante as três edições, que claro, ficaram bem a baixo até pela imensa diferença logística enfrentada. A temporada marca a criação do Quadro Nacional de Arbitragem, constituído pelo novo plano da entidade em criar seu calendário nacional do futebol, contando com 4 competições oficiais: Taça Brasil, Robertão, Norte-Nordeste e Centro-Sul, nenhuma delas dando título de campeão brasileiro e sim o encontro entre os campeões dos quatro certames, que na Copa dos Campeões da CBD, seria dado o título de campeão nacional e a vaga pra Libertadores de 1970.

Em 1968, foi criado o Quadro Nacional de Arbitragem para as competições nacionais da CBD. 12 de julho de 1968, Diario de Pernambuco.

Técnico do Santa Cruz, Gradim cita o Torneio Norte-Nordeste como competição nacional. 4 de julho de 1968, Diario de Pernambuco.

O Robertão não dava titulo de campeão brasileiro e sim o torneio onde os campeões interestaduais se encontravam. 19 de dezembro de 1968, Diario de Pernambuco.

Campeão do Torneio Norte-Nordeste, o Sport se preparava para o título brasileiro no embate contra Grêmio Maringá, Santos e Botafogo. 14 de março de 1969, Diario de Pernambuco.

O regulamento oficial da CBD para o Torneio Norte-Nordeste previa duas chaves regionais, onde o vencedor de cada chave era declarado campeão regional das regiões norte e nordeste, ou seja, talvez você não sabe, mas o Sport além do Norte-Nordeste, é campeão do Torneio do Nordeste, assim como o Remo é campeão do Torneio do Norte. O campeão do Norte-Nordeste partia pro embate contra os campeões dos outros três torneios.

Regulamento oficial do Norte-Nordeste, publicado em 19 de dezembro de 1968 no Diario de Pernambuco.

Fica claro a finalidade dos torneios comandados e criados pela CBD em 1968. Era a Taça Brasil que não definia a vaga pra Libertadores como anos anteriores, era o Robertão sendo organizado pela CBD para um possível nacional constituído com base apenas no eixo sul e os campeonatos do resto, os quais mesmo sendo ridicularizados e mal atencionados, tinha a mesma finalidade: gerar vaga pra a Copa dos Campeões para buscar o título de campeão brasileiro e a vaga pra Libertadores. E pra ficar nítido que o Robertão era interestadual, embrionário e não nacional, que o título de campeão brasileiro sairia do embate entre os 4 e tudo mais, é só olhar o que jornais e revistas do próprio eixo sul falava:

Em 14 de agosto de 1970, com o Robertão já rolando por 4 edições, a Revista Placar exibe como o Brasil não possui um torneio nacional.

“Qualquer pessoa poderia julgar que, no ano do Tri, quando o futebol brasileiro tem tudo para atingir a puberdade na área administrativa, o Robertão viesse, finalmente, a ser encarado na sua mais legítima finalidade: a de semente do tão sonhado Campeonato Nacional.” Cláudio de Souza, na revista Placar número 22, de 14 de agosto de 1970

E o que falar quando o próprio presidente da CBD, aquele que compactuou com o escárnio de 2010, em publicação do Jornal da Tarde, 21 de julho de 1970 frisa que o Robertão é um embrião e não um nacional?

A Gazeta Esportiva em 8 de maio 1970, com o Robertão sendo chamado de regional.

O Popular da Tarde em 19 de setembro de 1970 vaia ainda mais longe, mostra que o Robertão além de não ser nacional, é apenas um embrião, como foi o Rio-São Paulo.

Olha só... o gaúcho Diario Popular deixando bem claro.

Muitas vezes chamamos manjadinho do sul, mas os próprios clubes o eixo sul eram extremamente revoltados com os jogos políticos para beneficiar os estados da Guanabara e São Paulo e com a não legitimidade pra apontar um campeão brasileiro.

Diário Popular em  25 setembro de 1967



E o que dizer que os próprios paulistas não consideravam o Robertão nacional? O Jornal A Tribuna tratava o Robertão como "interestadual", assim como tratava a Taça Brasil como "nacional.









Nem mesmo as presenças de Náutico e Santa Cruz no Robertão contra grandes clubes fizeram a crônica pernambucana considerar o Robertão como nacional, mas sim como um interestadual embrionário. Como diz o Diario de Pernambucano em 1969.



Pra finalizar esse começo de fogo e lenha na fogueira, é bom lembrar que em 1967 ocorreu o Robertão e o Torneio Hexagonal Norte-Nordeste. Os vencedores de cada competição foram considerados "campeão do norte e do sul" e existia um intuito de realizar um embate entre eles, no caso, Santa Cruz e Palmeiras.

Diario de Pernambucano em 1967

Existem duas palavras a serem trabalhadas nesses contextos: Finalidade & Injustiça.

Em 2010, o autor do dossiê da unificação da Taça Brasil e Robertão em entrevista para o grupo Globo sustentou a validade da Taça Brasil com essa frase:

"Todos os clubes brasileiros tiveram a oportunidade de ganhar a Taça Brasil através do campeonato estadual, não houve nenhuma injustiça. Então das muitas críticas que nós vimos e vemos, citaram como é que pode o Siderúrgica representar MG ou Comercial representar o PR? Ora, Siderúrgica superou Cruzeiro, Atlético e América. E nada mais justo do que o Siderúrgica representar MG, isso mostra provava lisura da competição, a ética que na Taça Brasil foi levada ao extremo. Nenhum time que não fosse campeão estadual participou da Taça Brasil, ao não ser que o campeão estadual fosse campeão da Taça Brasil, que dava vaga ao vice-campeão daquele estado."

"Não importa número de participantes, nome, fórmula de disputa, nível técnico nem é tão importante, o importante é a finalidade."

Concordo com as duas frases, porém elas não podem ser aplicadas no Robertão. Primeiro que a finalidade do torneio não era apontar o campeão brasileiro, era junto aos outros torneios criar projetos para um Campeonato Brasileiro, que só ocorreu de fato em 1971. Sua finalidade era igualitária ao campeão da Taça Brasil, do Torneio Norte-Nordeste e do Torneio Centro-Sul: título interestadual e vaga pra Copa dos Campeões da CBD para disputar o título de campeão brasileiro e a vaga pra Libertadores de 1970.

Pra piorar, como alguém pode falar em injustiça quando defende o Robertão que foi um grande ato político de exclusão do eixo norte? Então que fique claro, pela reparação de haver injustiça com diversos estados e regiões que ficaram de fora de uma "elite" por pura política, xenofobia e poder financeiro e por quatro torneios de mesmas finalidades terem dois deles elevados pra uma coisa que não era e nunca foi, começará uma guerra de direitos, de igualdade. Ficará como escolha da CBF: ou faz o Robertão virar o que ele sempre foi: um embrião interestadual, assim como sua versão do Rio-São Paulo, ou deixa claro que houve a criação de Brasis e Campeonatos Brasileiros regionalizados.

E deixo claro, Odir Cunha é um grande historiador e jornalista, de grande contribuição para a história e o esporte nacional, porém, seu trabalho pode ser explanado e adicionado mais planos. Em diversos países existem campeonatos nacionais regionalizados, mas são listas extensas e que independente de nível técnico e tudo mais, são tratados por serem embrionários, assim como o Rio-São Paulo desde 1933 e a Copa dos Campeões da FBF em 1937. Ou unifica tudo, ou unifica nada, pois a CBF criar critérios para justificar escolhas em que claramente se contradizem entre os torneios elevados e que ao mesmo tempo deixa outros de fora, é uma imensa sacanagem. Quais os torneios totais que deveriam serem unificados. Esses aqui.

Campeões do Campeonato Brasileiro do Norte:

1968: Sport Recife
1969: Ceará
1970: Fortaleza

Títulos nacionais de elite do eixo Norte:

Campeonato Brasileiro: Sport (1987) e Bahia (1988)
Taça Brasil: Bahia (1959)
Campeonato Brasileiro do Norte: Sport (1968), Ceará (1969) e Fortaleza (1970)
Copa do Brasil: Sport (2008)
Copa dos Campeões: Paysandu (2002)

Títulos nacionais de elite do eixo Norte (unificados):

Campeonato Brasileiro: Sport (1968 e 1987), Bahia (1959 e 1988)Ceará (1969) e Fortaleza (1970)
Copa do Brasil: Sport (2008)
Copa dos Campeões: Paysandu (2002)

segunda-feira, 16 de maio de 2022

O 100º Bahia x Sport Recife não poderá passar batido!

Rubro-negro versus tricolor: o termo mais tradicional quando se refere a grandes rivalidades na Bahia, por Bahia x Vitória e em Pernambuco, por Santa Cruz x Sport Recife, mas quando se reúne os maiores clubes dos principais estados nordestinos e ficam frente a frente as duas maiores instituições esportivas da região, o duelo preto e vermelho contra três cores permanece e ainda mais gigantesco, pois em 90 minutos duelam Esporte Clube Bahia e Sport Club do Recife, duelo que carinhosamente gosto de chamar de 'Clássico de Imponência', o que de fato é o Superclássico do Nordeste.

Recife e Salvador, as capitais da esfera norte do Brasil, onde nasceu a República e onde nasceu o símbolo de Capital, o brilhantismo, o nascimento do progresso nacional, dois imensos lares dos fortes desenvolvimentos estruturais, econômicos, políticos, culturais e estéticos da história da vida brasileira e que no futebol também é refletido, por ser sinônimo de grandezas, de conquistas, pioneirismos e de muito orgulho para uma região que tem nos seus dois principais clubes, as suas duas maiores nações. Um nasceu em 13 de maio de 1905, o outro em 01 de janeiro de 1931, direta e indiretamente, feriados locais, cada um em suas esferas. Suas histórias sempre estiveram ligadas, seja por meios intensos que geraram grandes fins, episódios marcantes que narram a tradição regional no futebol e claro, disputa por um título que somente os dois podem pensar em dizer que é: Maior do Nordeste.

Os troféus da Taça Brasil, Copa do Brasil e as Taças das Bolinhas simbolizando o nordeste no topo.
Divulgação: Bahia e Sport Recife

Quando entram em campo, Bahia e Sport Recife levam em suas pesadas camisas três títulos brasileiros, sendo uma Taça Brasil em 1959 e dois Campeonatos Brasileiros, que por sinal, vieram de forma consecutiva, em 1987 e 1988, uma Copa do Brasil, erguida em 2008. São quatro estrelas douradas, além de uma Série B, vencida em 1990. Regionalmente, são 7 títulos da Copa do Nordeste, 4 títulos da Taça Norte e 1 título do Torneio Norte-Nordeste, sendo dessas 12 conquistas, 4 finais entre os Maiores do Nordeste. Nacionalmente os clubes ainda possuem os títulos simbólicos do Qualificatório Taça Ouro em 1980 e 1981, que fizeram tricolores e leoninos subirem pra Série A no mesmo ano. No âmbito estadual, Náutico, Santa Cruz e Vitória assistem seus rivais dominarem as praças com 49 títulos do Bahia e 42 do Sport Recife. Pra ter noção, os maiores juntos formam 91 títulos estaduais. Os 29 de Santa e Vitória + os 24 do Náutico somam-se 82, 9 a menos que a soma do Tricolor de Aço e do Leão do Norte.

Os rivais são quem possuem a maior longevidade na Libertadores e na Copa Sul-Americana, sendo os únicos nordestinos a disputarem quartas-de-finais das duas maiores competições internacionais. Recordistas de finais nacionais, 9 ao total, sendo 3 da Taça Brasil, 2 do Brasileirão, 2 da Copa do Brasil, 1 da Copa dos Campeões e 1 da Série B. Juntos, somam 23 convocações pra seleção brasileira e 10 artilharias nacionais, sendo 7 de elite. Na base, os clubes detém marcas globais como revelação de Daniel Alves, um dos atletas mais vencedores da história do esporte em geral e ícones da Copa do Mundo como Ademir de Menezes e Vavá. São dois dos 3 únicos norte-nordestinos membros do extinto Clube dos 13 e não possuem uma participação na Copa Conmebol, a qual seriam favoritos, pois optaram ficar de fora.

Bahia x Sport Recife pela "final antecipada" do Brasileirão de 1988. O momento auge do Nordeste: atual campeão x futuro campeão.

Os números também são gritantes quando fala-se de torcida, já que, segundo a Datafolha em 2021, juntos, os rivais somam mais de 5 milhões de torcedores. E ainda sobre números, somam mais de 60 vendas milionárias. Já foi confronto internacional, quando se enfrentaram pela Copa Sul-Americana de 2015 e falando em marcas internacionais, são os principais ingredientes para que o Ba-Vi e o Clássico dos Clássicos sejam os únicos derbys do Nordeste no hall de Classic Football da FIFA. Sem falar em suas excursões ante gigantes como Bayern de Munique e Real Madrid, estádio e CTs sede de Copas do Mundo, honraria de Clube Clássico da FIFA e dois únicos clubes fora do eixo Rio-São Paulo a serem convidados para a International Soccer League, torneio que contou com aval da FIFA e que clubes campeões vem trabalhando para ser oficializado como Mundial de Clubes.

O primeiro confronto entre as equipes ocorreu em 25 de fevereiro de 1932, no Recife, com triunfo do Bahia por 2x1, sendo dois meses mais antigo que o Ba-Vi. São 99, jogos por torneios de âmbitos amistosos, regionais, inter-regionais, nacionais e internacionais. Em 2023, pela Copa do Nordeste, o clássico chegará a marca de 100 jogos, um marco na história desse super encontro. E é necessário um momento de celebrar o passado, o presente e o futuro, as conquistas, os símbolos, os ícones, enfim, tudo que faz desse confronto, a cara do Nordeste.

Seja na Ilha do Retiro ou na Fonte Nova, o palco do 100º jogo é especial, pois foram nesses estádios que ocorreram as fases mata-mata da Copa Sul-Americana de 2015, os duelos que posteriormente deram os título da Taça Brasil de 1959 e do Brasileiro de 1988 ao Bahia, assim como foram os palcos das finais das Taças Norte de 1959 e 1963 e das Copas do Nordeste de 2001 e 2017. São os berços do clássico e seja em Recife ou Salvador, já temos um local especial pra festa.

Antes do jogo e/ou no intervalo, homenagens a Recife e Salvador, a Bahia e Pernambuco, ao Nordeste. Com as duas Taças das Bolinhas e os dois troféus da Taça Brasil e da Copa do Brasil em campo, com ídolos em comum como Estevam Soares e Dadá Maravilha, com ícones de cada lado como Bobô, Magrão, Marcelo Ramos, Durval, Charles e Betão em campo, quem sabe partida uma preliminar antes com as seleções históricas se enfrentando. Artistas e torcedores célebres como Gilberto Gil, Lenine e Cláudia Leitte dando cultura ao evento, e ilustres como Dona Maria presente. E claro, uma taça ao vencedor do confronto.

#MaioresDoNordeste, a campanha dos finalistas em 2017
São diversas formas de fazer acontecer um evento histórico e memorável, do tamanho do clássico e que simbolizem bem a significância de suas instituições. São duas direções e até duas federações conduzindo o momento. A única coisa que não pode acontecer, é deixar passar batido.

Em 2017, os clubes decidiram a final da Copa do Nordeste, a qual pra muitos foi a maior edição de todos os tempos, inclusive, ambos levantando a hashtag #MaioresDoNordeste, usando um a imagem do outro para elevarem seus nomes e posteriormente o título de quem viesse a ser o campeão.

Os clubes vivem longe de suas melhores fases e bem distante de projeções de acordo com suas grandezas e com as finalidades que sustentam o fundamente de suas existências: títulos nacionais, empoderamento regional, incomodar o eixo sul-sudeste, servir a seleção brasileira, revelar craques e duelar entre si o que ambos tem de melhor, mesmo assim, mesmo longe de suas boas fases, a história, as glórias são para sempre e quem tem história conta, quem não tem que fale mal da dos outros, pois o futebol é uma história feita de continuidade, assim como o passado é o que nivela um clube a ser grande, como Bahia e Sport Recife. Direções, façam essa homenagem a essas camisas e a essa região, um grande pulso e termômetro é lembrar para suas nações o tamanho, os pesos desses clubes e assim, quem sabe, impulsionar o orgulho e gerar o gás a mais para a luta do passado de glórias, pioneirismo e raça voltar a transcender o cotidiano e o trabalho dos rivais e consequentemente os trilhos dos sucessos se restabelecerem.

Dados e curiosidades do confronto e dos clubes:

Idade: Bahia 91 anos (01 de janeiro de 1931) e Sport Recife 117 anos (13 de maio de 1905)
Estádios: Bahia (mando de campo): Arena Fonte Nova (1951, 50k) e Pituaçu (1979, 32k) e Sport Recife: Ilha do Retiro (1937, 35k)
Primeiro jogo: Sport Recife 1x2 Bahia, 25 de fevereiro de 1932, amistoso
Maior placar: Sport Recife 6x0 Bahia, Taça Brasil e Taça Norte de 1959
Maior público: 69 mil pessoas para Bahia 3x1 Sport Recife, final da Copa do Nordeste de 2001
Retrospecto: 99 jogos: 39 triunfos do Bahia, 31 do Sport Recife e 29 empates
Jogos na Bahia: 24 triunfos do Bahia, 13 do Sport Recife e 15 empates
Jogos em Pernambuco: 15 triunfos do Bahia, 18 do Sport Recife e 13 empates
Jogos fora dos estados: 1 empate
Triunfos pelo Campeonato Brasileiro (unificado): 12 triunfos pra cada e 8 empates
Triunfos pela Série B: 4 do Bahia e 2 do Sport Recife
Triunfos pela Copa Sul-Americana: 1 para cada
Triunfos pela Copa do Nordeste: 5 para o Bahia, 1 para o Sport Recife e 6 empates
Finais de Taça Norte: 1959 (Bahia campeão) e 1963 (Bahia campeão)
Finais de Copa do Nordeste: 2001 (Bahia campeão) e 2017 (Bahia campeão)
Classificações: 5 do Bahia e 2 do Sport Recife
Classificação internacional: 1 do Sport Recife
Classificação nacional: 3 do Bahia
Classificação regional: 2 do Bahia e 1 do Sport Recife
Participações na Libertadores: 3 do Bahia e 2 do Sport Recife
Participações na Copa Sul-Americana: 8 do Bahia e 5 do Sport Recife
Fase mais longeva da Libertadores: Bahia nas quartas e Sport Recife nas oitavas
Fase mais longeva da Sul-Americana: ambos nas quartas
Participações no Campeonato Brasileiro (unificado): 50 do Bahia e 42 do Sport Recife
Participações na Taça Brasil: 6 do Bahia e 3 do Sport Recife
Participações na Taça de Prata (Robertão): 3 do Bahia
Participações no Brasileirão: 41 do Bahia e 39 do Sport Recife
Participações no Brasileirão da era acesso/descenso: 24 do Sport Recife e 23 do Bahia
Participações no Brasileirão dos pontos corridos: 11 do Sport Recife e 10 do Bahia
Participações na Série B: 14 do Sport Recife e 11 do Bahia
Participações na Série C: 2 do Bahia
Participações na Copa do Brasil: 32 do Bahia e 29 do Sport Recife
Participações na Copa dos Campeões: 2 de cada
Participações no Torneio dos Campeões de 1982: 1 do Bahia
Participações no Torneio dos Campeões da CBD de 1969: 1 do Sport Recife
Participações no Torneio Heleno Nunes de 1984: 1 de cada
Finais nacionais: 5 do Sport Recife e 4 do Bahia
Finais nacionais de elite: 4 de cada
Rebaixamentos totais: 6 do Sport Recife e 4 do Bahia
Rebaixamentos para a Série C: 1 do Bahia
Jogos internacionais: 50 do Bahia e 34 do Sport Recife
Convocações para seleção brasileira: 13 do Sport Recife e 10 do Bahia
Artilheiros nacionais: 5 de cada
Artilheiros nacionais de elite: 4 do Sport Recife e 3 do Bahia
Torcidas: 2 milhões e 700 mil do Bahia e 2 milhões e 300 mil do Sport Recife (dados Datafolha em 2021)

Títulos de Bahia e Sport Recife:

Campeonato Brasileiro: 2 (1987 e 1988)
Taça Brasil: 1 (1959)
Copa do Brasil: 1 (2008)
Série B: 1 (1990)
Torneio Norte-Nordeste: 1 (1968)
Taça Norte: 4 (1959, 1961, 1962 e 1963)
Copa do Nordeste: 7 (1994, 2000, 2001, 2002, 2014, 2017 e 2021)
Torneio do Nordeste: 2 (1968 e 1970)
Estadual: 91 (1916-2020)

5 títulos nacionais, 5 títulos inter-regionais, 9 títulos regionais e 91 títulos estaduais

Não-oficiais ou títulos anexos:

Troféu Roberto Gomes Pedrosa: 1 (1987)
Qualificatório Taça Ouro: 2 (1980 e 1981)
Torneio dos Campeões do Nordeste: 1 (1948)

3 títulos nacionais e 1 título regional

Marcas do Bahia:
  • Primeiro campeão brasileiro
  • 1º e único norte-nordestino campeão da Taça Brasil
  • 1º clube a disputar uma final nacional
  • Primeiro brasileiro a disputar Libertadores
  • 1º norte-nordestino a disputar uma competição internacional
  • 1º norte-nordestino a passar de fase internacional
  • 1º nordestino a jogar na Argentina
  • 1º nordestino a jogar na Venezuela
  • 1º nordestino a jogar na Bolívia
  • 1º nordestino a encarar o San Lorenzo/ARG
  • 1º nordestino a encarar o Deportivo Italia/VEN
  • Um dos 2 únicos clubes fora do eixo Rio-São Paulo a participar da International Soccer League
  • Norte-nordestino recordista de participações no Robertão
  • Fundador do Clube dos 13
  • Melhor norte-nordestino no Torneio dos Campeões de 1982
  • Vice-campeão e melhor norte-nordestino do Torneio Heleno Nunes de 1984
  • Melhor campanha do Nordeste na Libertadores e na Copa Sul-Americana
  • Primeiro campeão da Taça Norte
  • Maior campeão da Copa do Nordeste
  • Único bicampeão brasileiro do Nordeste
  • 1º norte-nordestino bicampeão nacional de elite
  • 1º nordestino a encarar o Deportivo Táchira/VEN
  • 1º nordestino a encarar o Marítimo/VEN
  • 1º e único clube norte-nordestino campeão da Taça Brasil e do Brasileirão
  • Único clube do norte-nordeste a disputar quartas-de-finais da Libertadores
  • Maior campeão baiano
  • CT sede de Copa do Mundo
  • Líder em confrontos no retrospecto contra o G7 do Nordeste
  • Líder norte-nordestino em jogos internacionais oficiais
  • Líder norte-nordestino em artilheiros nacionais
  • Recordista em participações na Libertadores e Copa Sul-Americana
  • 1º nordestino a encarar o Atlético Nacional/COL
  • 1º nordestino a encarar o Blooming/BOL
  • 1º nordestino a encarar o Cerro/URU
  • 1º nordestino a encarar o Liverpool/URU
  • 1º nordestino a encarar o Nacional/PAR
  • 1º nordestino a encarar o Melgar/PER
  • 1º nordestino a encarar o Unión de Santa Fe
  • 1º nordestino a encarar o Defensa y Justicia
  • 1º nordestino a encarar o Montevideo City Torque/URU
  • 1º nordestino a encarar o Guabirá/BOL
  • Líder norte-nordestino na classificação da Copa Sul-Americana e em competições da Conmebol em geral
  • Revelou Daniel Alves, um dos atletas mais vencedores da história do esporte em geral
  • Ba-Vi, o primeiro clássico norte-nordestino premiado no hall Classic Football da FIFA
  • Líder norte-nordestino em vendas milionárias
  • Maior torcida norte-nordestina
  • Clube norte-nordestino líder da média de público histórica do Brasileirão
Marcas do Sport Recife:
  • Único norte-nordestino com estádio sede de Copa do Mundo
  • Único clube do planeta a revelar dois artilheiros de Copa do Mundo
  • Revelou o maior artilheiro sul-americano de uma edição de Copa do Mundo
  • 1º campeão do Torneio Norte-Nordeste
  • 1º e maior campeão do Torneio do Nordeste
  • 1º nordestino a jogar no Peru
  • 1º nordestino a encarar o Universitario/PER
  • 1º nordestino a encarar o Alianza Lima/PER
  • Fundador e primeiro campeão da Copa do Nordeste
  • Membro do Clube dos 13
  • Maior campeão pernambucano
  • CT sede de Copa do Mundo
  • Primeiro clube fora do eixo Rio-São Paulo a participar da International Soccer League
  • Primeiro clube do Nordeste campeão nas esferas estadual, regional, inter-regional e nacional
  • 1º clube a disputar a final da Copa do Brasil
  • 1º e único norte-nordestino campeão da Copa do Brasil
  • 1º e único clube norte-nordestino campeão do Brasileirão e da Copa do Brasil
  • 1º nordestino a jogar no Chile
  • 1º nordestino a jogar no Equador
  • 1º nordestino a encarar o Colo Colo/CHI
  • 1º nordestino a encarar a LDU/EQU
  • Único norte-nordestino a disputar a Copa dos Campeões da CBD
  • Único clube norte-nordestino a ter técnico convocado pra seleção na era aberta
  • Recordista norte-nordestino de convocações para a seleção brasileira
  • Único clube norte-nordestino a participar da Libertadores em ambos séculos
  • Líder norte-nordestino na classificação da Libertadores
  • 1º clube norte-nordestino a disputar as quartas-de-finais da Copa Sul-Americana
  • 1º norte-nordestino a disputar clássico estadual e regional em torneios internacionais
  • 1º nordestino a encarar o Huracán/ARG
  • 1º nordestino a encarar o Danúbio/URU
  • 1º nordestino a encarar o Arsenal de Sarandí/ARG
  • 1º nordestino a encarar o Atlético Junior/COL
  • Único clube nordestino a disputar a final da Copa dos Campeões
  • Clássico dos Clássicos premiado no hall Classic Football da FIFA
  • Único clube fora do G12 premiado como Clube Clássico da FIFA
  • Um dos três nordestinos campeões da Série B
  • Um dos dois nordestinos a nunca disputar a Série C do Campeonato Brasileiro
  • Líder norte-nordestino em artilheiros nacionais e líder em artilheiros nacionais de elite
  • Clube do autor do gol mais rápido da história da seleção brasileira
  • 6º clube do mundo, 3º do continente e único norte-nordestino a vencer o FIFA Fan Awards

E aí, é justo criar um momento de homenagens e celebração pelo centésimo encontro desses gigantes?