terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Qual a ação correta da CBF em reconhecer os títulos regionais pré-1994? Só oficializa ou também unifica?

Ter a sensação de ser campeão regional ou inter-regional é algo presente na vida dos torcedores norte-nordestinos há muitas décadas. Seja de forma oficial ou não oficial, reconhecida ou não reconhecida, seus valores existiram e existem até os dias atuais e tudo precisa ser nivelado e julgado com ferramentas imparciais e ideais, para não transformar, diminuir ou aumentar nada, mas sim pôr tudo em sua devida prateleira. O blog realizou um levantamento detalhado sobre os títulos regionais de Nordeste e Norte e inter-regionais do Norte-Nordeste, considerando todas as conquistas, seja oficiais, reconhecidas ou não reconhecidas e não oficiais, entre 1923 até a atualidade e agora opina sobre o que a CBF, clubes, torcedores e imprensa deveriam oficializar e tratar.

Sendo direto: sou contra unificação de títulos, pois uma coisa é valor, outra coisa são as "eras". Pegando o artigo criado pelo blog, vemos que entre 1946 e 1976 houve torneios que buscam o reconhecimento de títulos regionais do Nordeste para serem reconhecidos como Copa do Nordeste (1994-). Vamos simular um cenário onde todos esses certames são válidos e serão oficializados pela entidade. O que fazer? Bem, agora é onde entra a polêmica. Considerando os títulos do Sport Recife, eis a visão de como deveria ocorrer:

O leão é campeão da Copa do Nordeste por três oportunidades (1994, 2000 e 2014) e seria campeão do Torneio do Nordeste (anexo ao Torneio Norte-Nordeste) em duas (1968 e 1970). A CBF deveria reconhecer o Sport Recife como campeão regional do Nordeste em 1968 e 1970, dando a esses títulos o mesmo status dos demais, ou seja "campeão nordestino", porém sem unificar. A unificação seria a mesma coisa de dizer que o Sport venceu a Copa do Nordeste em 5 edições ou até mesmo que foi campeão do Torneio do Nordeste em 1968, 1970, 1994, 2000 e 2014, o que seria, de fato, errado. Os clubes, entidades e federações articularam diversos projetos para a criação de um Campeonato do Nordeste e de forma oficial ele começou em 1994, portanto, estamos falando da "era Copa do Nordeste", o produto que veio para fazer parte do calendário nacional do futebol, o auge, o teto de um torneio nordestino, nada comparado. Só é campeão da Copa do Nordeste os vencedores das edições disputadas deste torneio, desta era, deste período. E o que veio antes? Ai seria a "era pré-Copa do Nordeste" em que dentro dela teria outros diversos torneios que podem ter o mesmo status, porém sem ser a mesma 'coisa'. O status de "campeão do Nordeste" se aplica ao vencedor de um torneio que tinha como finalidade apontar o campeão regional da região Nordeste do Brasil, o que é disputado na Copa do Nordeste, e se era isso que também era disputado pré-1994, então deve-se ser reconhecido esse status.

Não unificar não é querer diminuir algo, muito pelo contrário, é querer valorizar os torneios. Cada conquista possui seu valor próprio, valor natural, não precisa ser misturado, pois além de avacalhar o atual, irá bagunçar a mais que centenária história do futebol brasileiro. Além disso, cada torneio possui o seu valor, inclusive muitos torneios de uma era pré-estabelecida pode ter um valor maior que a era atual e sempre que cito isso, uso como exemplo os títulos brasileiros do Esporte Clube Bahia. O tricolor possui dois títulos brasileiros, um em cada era, a "era Taça Brasil" e a "era Brasileirão". Oficialmente o Campeonato Brasileiro começou em 1971 e foi em 1988 que o Bahia venceu o seu único Brasileirão. Em 1959, os baianos conquistaram o título brasileiro no torneio Taça Brasil, que era pré-Brasileirão mas que pelo menos na minha opinião, possui um 'valor' maior que o brasileiro de 1988 e que é o maior título da história do futebol nordestino. O título de 1959 trouxe pioneirismo por um título nacional e participação na Libertadores, foi conquistado no palco da final de uma das mais lendárias Copa do Mundo e foi - "somente" - vencida sobre o Santos de Pelé. O nome é Taça Brasil, seu período é da "era pré-Brasileirão", então por que eu chamarei de Brasileirão 1959 ou listarei tudo como se fossem os mesmos torneios, de mesmas eras? Não precisa, pois isso só irá diminuir a Taça Brasil, como que fosse preciso ser comparada a outra coisa para ser 'grande', e lógico que não, ela nasceu grande e foi algo único e ao comparada a 1988, mesmo sendo torneios da mesma finalidade, - apontar o campeão brasileiro - o 'valor' que vejo em 1959 é maior. "Desenhando", como ficaria esses títulos nacionais do maior clube do nordeste: bicampeão brasileiro (1 Taça Brasil e 1 Brasileirão). Indo ainda mais além, como podemos classificar os títulos nacionais do Cruzeiro Esporte Clube? O clube é 10 vezes campeão nacional, sendo 4 títulos brasileiros (1 Taça Brasil e 3 Brasileirões) e 6 Copas do Brasil. Tudo fica mais justo. Inclusive, pro cabuloso, assim como pro Bahia fica ainda mais rico pra sua história saber que entre seus títulos brasileiros, houve conquistas em eras diferentes, isso carimba a tradição e longevidade de uma camisa pesada.

Voltando pro cenário nordestino, como seriam esses títulos do Sport Recife: 5 títulos nordestinos (1968, 1970, 1994, 2000 e 2014) - 2 Torneios do Nordeste (1968 e 1970) e 3 Copas do Nordeste (1994, 2000 e 2014). Em caso do rubro-negro conquistar uma nova edição do Nordestão, como podemos classificar? Que o clube é tetra-campeão da Copa do Nordeste e leva pra casa a sua 6ª conquista regional entre todas as eras. É tão justo quanto simples.

Se sou contra unificação de torneios diferentes com a mesma finalidade, imagine de torneios com finalidades diferentes. Uma coisa é ser campeão regional, outra é ser campeão inter-regional. No processo para oficialização dos títulos, muitos torneios inter-regionais Norte-Nordeste são envolvidos e daí cabe um debate para o âmbito entre regiões e não de uma só região. Apontando os títulos inter-regionais do Clube Náutico Capibaribe, vale o mesmo critério. São 5 títulos norte-nordestinos, sendo 3 Taças Norte, 1 Copa dos Campeões da Taça Norte e 1 Torneio dos Campeões do Norte-Nordeste. Não precisa juntar tudo e dizer "o Náutico possui 5 Copas Norte-Nordeste". Inclusive até mesmo a finalidade entre esses torneios eram diferentes, pois um deles apontaria o 'Supercampeão' do Norte (eixo Norte do Brasil), ao reunir os campeões de todas edições da Taça Norte para indicar o vencedor de uma espécie de 'Supercopa'.

Um grande exemplo de forma correta a seguir é como a Conmebol trata de forma oficial o título vascaíno do Campeonato Sul-Americano de Campeões de 1948. A entidade máxima do continente oficializou o valor do torneio, indicando que a finalidade do certame era anunciar o campeão da América do Sul, assim como a Libertadores nos dias atuais. Em momento algum a Conmebol chama de 'Libertadores de 1948', ou tratou a Libertadores de 1960 como a 2ª edição e não a 1ª. São torneios diferentes, mas que de fato, o Vasco da Gama é bicampeão sul-americano, contando com um título de cada competição. Em 1997, a edição da Supercopa da Libertadores, que reunia todos os clubes campeões da América do Sul, contou com o alvinegro por ser campeão do Sul-Americano em 1948, o que reforça ainda mais o seu 'valor'. O torneio acabou sendo ainda mais valorizado fora de São Januário e por jamais ter seu nome, listas, rankings ou aspectos em geral mexido, nunca foi apontado como 'forçação' ou 'fax'. É a história e sua continuidade sendo respeitada.

Tratando os títulos que o blog abordou, em caso de oficializações, imagine que a CBF cria uma Supercopa do Nordeste, ela contaria, por exemplo, com campeões regionais do Nordeste, seja da Copa do Nordeste ou não, diferente de uma Supercopa da Copa do Nordeste, essa que teria que reunir apenas os campeões do torneio de 1994 pra cá.

Dom Pedro II e Luiz Inácio Lula da Silva. Duas figuras que podemos apontar como chefes da nação brasileira, cada um chegando ao cargo por um caminho, seja nepotismo ou eleições, porém tendo a mesma finalidade: liderar o país. Um foi Imperador, o outro é Presidente. O que seria mais importante? Ser presidente, lógico, pois é de uma "era" constitucional, de soberania pública, todavia existiram ações do luso-brasileiro que foram mais marcantes e interessantes que muitas do pernambucano durante sua trajetória, isso prova que mesmo sendo de uma era/cargo diferente/menor/menos importante, o 'valor' pode ser maior. Não sei qual desses dois você gosta mais, qual dos dois você ver mais valor, qual "era" é mais importante pra você, qual possui mais peso diante da finalidade, mas se tem uma coisa que você não tem direito, é de chamar Dom Pedro II de Presidente ou Lula de Imperador.

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