quinta-feira, 17 de março de 2022

Como era o futebol pernambucano antes do Sport entrar para o Clube dos 13?

Assim como Athletico-PR, Bahia, Flamengo, Guarani, Goiás e Sampaio Corrêa, o Sport é um clube que leva ampla vantagem em quase todos aspectos esportivos e institucionais quando nivelado aos seus rivais. Em Pernambuco existe um conto que essa disparidade do leão sobre os corais e o timbu aconteceu pela entrada do rubro-negro no Clube dos 13, organização que tratava interesses políticos e comerciais de seus membros, fundado no épico ano de 1987. Segundo alguns, os clubes eram de tamanhos e significâncias similares, até o time da Ilha do Retiro disparar seu tamanho ante os rivais pelas cotas financeiras, jogo político e pra uns até atos criminais. Mas isso seria um fato ou apenas uma muleta para justificar a diferença natural entre os clubes? O blog fará um raio-x do cenário pernambucano antes de 1997, ano que o Sport tornou-se membro da entidade.


Quem eram os clubes até então:

Náutico: Tendo o hexa-campeonato estadual como seu maior orgulho, o timbu vivia um jejum de 9 anos sem títulos e estava há 3 anos na Série B. Suas maiores marcas institucionais era ser o 1º clube do estado a participar da Libertadores (a qual foi muito mal por seu planejamento), a disputar uma final nacional e a ter um atleta convocado na era moderna, Nado, o qual foi pré-convocado na lista de 44 jogadores para disputar a Copa do Mundo de 1966. Suas lembranças de 20 anos antes trazem o tempo que o estadual valia vaga na Taça Brasil e o clube fez os rivais passarem 6 anos sem disputar o torneio, além das comemorações nos Aflitos pelas conquistas da Taça Norte e de duas competições regionais não oficiais, em 1952 e 1966, mas de organização e critérios interessantes. Já tratado como terceira força do estado, terceira maior torcida e terceiro principal patrimônio de Pernambuco, também já era tido tradicionalmente como o segundo maior rival do Sport, atrás do Santa Cruz. Muito por ser o terceiro em títulos e pelo jejum de conquistas contra o leão, que havia vencido as últimas 7 finais desde 1975. Nacionalmente sempre tinha um atleta de renome ou marcos da carreira no elenco, como Marinho Chagas, Mirandinha e Bizu.

Santa Cruz: 4 anos longe da Série A e com um Arruda que era a casa da seleção brasileira, o Santa junto com o Sport já formava as maiores torcidas do estado. Os corais eram o segundo maior campeão estadual e foi dono da primeira grande campanha do nordeste no Brasileirão (desde 1971), com a semifinal em 1975. Seus maiores orgulhos eram: segunda maior invencibilidade da história do Brasileirão, com 22 vitórias e 13 empates em 35 jogos entre dezembro de 1977 a julho de 1978, a Fita Azul, honraria conquistada em 1979 pela invencibilidade em amistosos fora do país; ser o clube da região de mais convocações e por ter o atleta de mais jogos e gols de um clube nordestino na seleção brasileira, Ramón, que foi convocado para a Copa do Mundo de 1978, porém cortado por uma lesão e por fim, o clube que havia revelado um atleta que vinha se destacando no Brasil e no mundo, Rivaldo, o qual vivia enorme expectativa para ser o camisa 10 na Copa do Mundo do ano seguinte. Esse brilhantismo foi desaparecendo com o futebol nacional se tornando mais enxuto e profissional, assim o clube tendo o selo de segundo escalão ao passar dos anos, porém, a popularidade nunca deixou de existir, independente do momento do próprio tricolor e dos rivais.

Sport: Presente na elite por 7 anos consecutivos desde quando subiu faturando a Série B em 1990, o time da Ilha conquistou o bi estadual e mantinha a marca de maior campeão desde 1924, chegando a 30 títulos pernambucanos, que por sinal, eram 6 a mais do que o Náutico e 1 a mais que o Santa possuem hoje, em 2022. O clube vinha com duas convocações para a seleção nos últimos dois anos de forma consecutiva. Suas maiores marcas era ser o único clube do planeta a revelar dois artilheiros de Copa do Mundo e a revelar o maior artilheiro de uma seleção sul-americana numa só edição de mundial; o único clube do nordeste a ter seu estádio como sede de uma Copa do Mundo; o 1º nordestino a conquistar os três únicos torneios oficiais de caráter regional (Taça Norte, Torneio Norte-Nordeste e Copa do Nordeste) e o líder em títulos no norte e no nordeste; clube com mais convocações na era aberta; 1º nordestino campeão do Campeonato Brasileiro, sendo o único em Pernambuco, também único a ter conquistado a Série B; ter feito a 1ª final da Copa do Brasil, sendo o único a chegar em finais das duas principais competições; ter a melhor campanha de Pernambuco na Libertadores e nos demais torneios que o estado se envolveu; ser o único da região a ter títulos nas quatro esferas (estadual, regional, interestadual e nacional); mais vitórias nos retrospectos contra os rivais; e ser a referência em compra e venda de atletas, sendo o líder em vendas milionárias e estrangeiras.

Títulos do trio de ferro até 1997:

Campeonato Brasileiro: Sport (1)
Campeonato Brasileiro do Norte: Sport (1)
Série B: Sport (1)
Taça Norte: Náutico (3) e Sport (1)
Copa do Nordeste: Sport (1)
Campeonato Pernambucano: Sport (30), Santa Cruz (23) e Náutico (18)

TÍTULOS TOTAIS: Sport (35), Santa Cruz (23) e Náutico (21)

Títulos não oficiais:

Copa dos Campeões do Norte: Náutico (1)
Torneio dos Campeões Norte-Nordeste: Náutico (1)
Torneio Hexagonal Norte-Nordeste: Santa Cruz (1)
Grupo Nordeste do N-NE: Sport (2)

Vale destacar que entre os títulos não oficiais, um clube do interior já possuía uma marca expressiva nunca alcançada por Náutico e Santa Cruz: o Central foi campeão brasileiro da Série B em 1986.

TÍTULOS NÃO OFICIAIS TOTAIS: Náutico e Sport (2)  e Santa Cruz (1)

Participações do trio de ferro até 1997:

Libertadores: Náutico e Sport (1)
Campeonato Brasileiro (Unificado): Náutico (29), Sport (24) e Santa Cruz (17)
Brasileirão (1971-): Sport (25), Náutico (22) e Santa Cruz (17)
Brasileirão (1988-): Sport (9), Náutico (5) e Santa Cruz (2)
Campeonato Brasileiro do Sul: Santa Cruz (2) e Náutico (1)
Campeonato Brasileiro do Norte: Sport (3), Náutico (2) e Santa Cruz (1)
Série B: Santa Cruz (10), Náutico (6) e Sport (3)
Copa do Brasil: Sport (6) e Náutico e Santa Cruz (5)
Torneio Campeões da CBD: Sport (1)
Torneio Heleno Nunes: Santa Cruz e Sport (1)
Copa do Nordeste: Náutico, Santa Cruz e Sport (2)

Campanhas do trio de ferro até 1997:

Libertadores: Náutico e Sport (fase de grupos)
Campeonato Brasileiro (unificado): Sport (campeão), Náutico (vice) e Santa Cruz (quarto lugar)
Campeonato Brasileiro do Norte: Sport (campeão), Náutico e Santa Cruz (segunda fase - quadrangular nordeste)
Copa do Brasil: Sport (vice), Náutico (semifinal), Santa Cruz (oitavas)
Torneio Campeões da CBD: Sport (terceiro lugar)
Torneio Heleno Nunes: Santa Cruz (9º) e Sport (10º)
Série B: Sport (campeão), Náutico (vice) e Santa Cruz (quarto lugar)
Copa do Nordeste: Sport (campeão), Náutico e Santa Cruz (quartas de finais)
Campeonato Pernambucano: Náutico, Santa Cruz e Sport (campeões)

Finais entre o trio de ferro até 1997:

Náutico campeão sobre o Santa Cruz: 6 vezes (1934, 1960, 1974, 1984, 1985 e 1989)
Santa Cruz campeão sobre o Náutico: 7 vezes (1946, 1959, 1970, 1976, 1983, 1993 e 1995)

Náutico campeão sobre o Sport: 6 vezes (1951, 1954, 1963, 1965, 1966 e 1968)
Sport campeão sobre o Náutico: 9 vezes (1955, 1961, 1975, 1977, 1981, 1988, 1991, 1992 e 1994)

Santa Cruz campeão sobre o Sport: 8 vezes (1916, 1917, 1920, 1949, 1953, 1962, 1980 e 1996)
Sport campeão sobre o Santa Cruz: 8 vezes (1940, 1957, 1969, 1971, 1973, 1986, 1987 e 1990)

Finais nacionais do trio de ferro até 1997:

1º) Sport, 5 finais (4 oficiais) (Qualificatório Taça Ouro de 1980*, Brasileirão de 1987, Troféu Roberto Gomes Pedrosa de 1987, Copa do Brasil de 1989 e Série B de 1990)
2º) Náutico, 2 finais (Taça Brasil de 1967 e Série B de 1988)

*Em 1980, os clubes da Taça de Prata que vencessem seus mata-matas do Qualificatório garantiriam o acesso para a Taça de Ouro do mesmo ano. O Sport venceu o Anapolina na decisão. A CBF concedeu um taça que foi festejada na Ilha, mas não é considerada oficial pela confederação, pois se trata apenas de uma fase transitória entre Série B e Série A.

Rebaixamentos do trio de ferro até 1997:

1º) Santa Cruz, 2 vezes (1988 e 1993)
2º) Náutico (1994) e Sport (1989), ambos 1 vez

Convocações do trio de ferro para a seleção brasileira até 1997:

1º) Santa Cruz, 13 convocações (Biu, Clóvis, Geroldo, Goiano, Servílio, Tião, Zé de Mello, Dodô, Valter Serafim, Moacir, Givanildo Oliveira, Nunes e Carlos Alberto Barbosa)
3 na era aberta e 10 para a representação da Cacareco no Sul-Americano de 1959

2º) Sport, 9 convocações (Édson, Elcy, Traçaia, Zé Maria, Bria, Roberto Coração de Leão, Betão, Adriano e Chiquinho)
4 na era aberta e 5 para a representação da Cacareco no Sul-Americano de 1959

3º) Náutico, 8 convocações (Elias, Geraldo José, Givaldo, Paulo Pisaneschi, Waldemar, Zequinha, Fernando Florêncio e Nado)
1 na era aberta e 7 para a representação da Cacareco no Sul-Americano de 1959

Artilheiros do trio de ferro até 1997:

1º) Náutico, 3 (Bita, duas vezes e Bizu)
2º) Santa Cruz, 1 (Ramón)

Vendas milionárias do trio de ferro até 1997:

1º) Sport, 3 vendas (Juninho Pernambucano, Russo e Chiquinho)
2º) Santa Cruz, 1 venda (Pantera)

Maiores jejuns de títulos:

Disputando competições oficiais desde 1916, o Náutico passou 18 anos para conquistar seu primeiro título, já o Santa precisou de 17 temporadas, o Sport levantou o seu primeiro troféu logo no primeiro torneio que disputou.

1º) Santa Cruz (9 anos sem título: Campeonato Pernambucano de 1947-1957 e 1959-1969
2º) Náutico (9 anos sem título: Campeonato Pernambucano de 1974-1984) e Sport (9 anos sem título: Campeonato Pernambucano de 1928-1938)

É de fato que o Sport já era imponente aos seus rivais, com marcas e marcos estaduais, regionais, nacionais e internacionais que escancaravam essa razão. Pernambuco é um estado repleto de contadores de história e muito folclore que passa de pai para filho e essa que o Sport começou a ter disparidade de seus rivais por conta de cota no Clube dos 13 é mais uma e inclusive bastante tradicional. Nas campanhas das competições, nos títulos, na marca para a elevação do esporte nacional, nos números, na influência mercadológica para contratar e vender, no financeiro, no social, na nacionalização do nordeste e no protagonismo meio ao profissionalismo do futebol brasileiro, o Sport já era bastante maior como clube e instituição que Náutico e Santa Cruz.

O Náutico em 1997 já olhava pro seu brilho com saudade e desde então manteve alguns aspectos, como bom número de presença na elite e coadjuvância em números de torcida, títulos e campanhas em torneios regionais. O Santa já vinha de uma queda desde a implementação do acesso e descenso no Brasileirão e nacionalmente já vivia da campanha em 1975 para apontar um brilho nacional, que inclusive sempre foram bem a baixo na Copa do Brasil. Assim como o Náutico, continua com gestões parecidas. É importante olhar pros mais pesados absurdos que os clubes passaram, como quedas pra Séries C e D (que por sinal em muitas dessas quedas o Sport nem na mesma divisão estava) e jejum de títulos. Quantas vezes os dois caíram de divisão quando eles eram as maiores camisas em torneios que os adversários nunca participaram do Clube dos 13? Quantas vezes clubes como Sampaio Corrêa, Campinense, Fluminense-BA, ABC, ASA e outros de menor expressão realizaram campanhas bem mais amplas que Náutico e Santa Cruz na história da Copa do Nordeste? Nenhum dos citados participaram do Clube dos 13. E quantas foram as vezes que o Santa Cruz venceu o Sport em finais no Arruda ou na Ilha do Retiro, mesmo com o Sport estando no Clube dos 13? O que também puxa pro assunto que das 10 finais que o Náutico passou a ser vice do Sport em 52 anos, 7 delas foram antes de 1997.

Sem falar que hoje temos Ceará e Fortaleza como referências regionais em projeção de futuro e conquistas dentro de campo, mesmo que nunca participaram de entidades e diferente de Náutico e Santa Cruz, nunca tiveram um rival de relevância nacional onde a proximidade lhe trouxesse ganhos. Simplesmente a história sendo feita de forma como a naturalidade dos clubes ditam, desde suas fundações.

Pra carimbar: Em 1997, o Sport possuía mais títulos estaduais que os rivais possuem em 2022, mesmo sem contar os 12 conquistados desde então. Até ali, o estado possuía títulos de 5 competições distintas, as 5 do Sport e seus co-irmãos vencendo apenas 1, o menos expressivo entre eles.

"O SPORT VETOU OS RIVAIS DE ENTRAR PRO CLUBE DOS 13!"

Mudando de assunto porém no mesmo tema, é importante frisar também que além da disparidade do Sport pós-entrada, existe uma popular história que dirigentes do Sport vetaram a entrada de seus rivais na entidade. Para um clube ser novo membro do Clube dos 13, era necessário o voto positivo de unanimidade dos membros e assim de maneira oficial e formal sendo convidado, como o Sport foi em 1997, tendo aprovação de Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco. E anos depois aprovando entradas de Athletico-PR, Guarani, Portuguesa e Vitória.

Nas reuniões onde os membros definiam possíveis novos integrantes, os dirigentes do Sport da época dizem que nunca houve cogitação do Santa Cruz ser convidado e nunca votaram contra a entrada de co-irmãos, com o próprio Luciano Bivar, então presidente leonino ressaltando: "Eu quero ver alguém provar que eu votei negativamente. Isso é mentira.". E de fato, nunca foi provado até hoje.

Indo mais além, mesmo sendo preciso a unanimidade dos votos, nem sempre a unanimidade é o que ocorre na prática. Pois muitos dizem que o Flamengo chiou com a entrada do Sport na entidade, porém como estamos falando de interesses políticos e financeiros, tudo muda. Mesmo que o Sport, sozinho, contra 19 clubes quisesse vetar os rivais de Recife, ele nunca conseguiria, pois se o ego de um clube bem maior, mais popular, rico, vitorioso e influente como o Flamengo não foi capaz, por quê o seu seria? Será que se Náutico e Santa Cruz tivessem mesmo um peso pra entrar no Clube dos 13 os maiores do país iriam abrir mão de interesses financeiros por conta do Sport? Acreditar nisso é mais surreal que em papai noel e coelho da páscoa.

De fato, desde a fundação até passar por novas entradas dos membros, o Clube dos 13 sempre deixou claro que era uma organização de maiores clubes do país + clubes de centros ou tamanhos que elevam inteiramente todos os aspectos dos clubes já presentes. Em 1987 aqueles eram os 13 maiores. Em 1997 foi adicionado dois campeões brasileiros + o Goiás, esses três que tinham popularidade, pertenciam a grandes centros, peso político, que obtinham campanhas constantes a nível nacional e/ou possuíam materiais que dentro de campo e fora dele dessem aos 13 fundadores a sensação de elitização esportiva em seus embates, assim como Athletico-PR, Guarani, Portuguesa e Vitória dois anos depois. Náutico e Santa Cruz, assim como outros cubes tradicionais, naquele momento até o fim da entidade em 2011, não atingiram níveis que preenchessem esses espaços, talvez os corais pudessem até cogitar pela sua grande massa de torcida, mas sua não elevação a nível nacional por mais de uma década e principalmente pós modernização dos torneios do país impediram o clube de ser visto como os demais. É difícil pelo fanatismo isso ser até pensado, mas desde a criação da entidade, a única vez que os rivais do Sport tiveram chance de poder ser membros por atingir um nível preciso, foi na época da cogitação do Clube se totalizar a 40 membros. Pois em 2009 quando o Náutico não conseguiu entrar, onde muitos dizem que foi o Sport que vetou, o timbu nem sequer chegou à votação.

Estamos na era da informação e na era da internet, com um amplo acesso a materiais de pesquisa e provas comprobatórias. Futebol pode não ser a coisa mais importante da vida, longe disso, mas não deveria ser tratado como chacota como é e sempre foi em Pernambuco, por muitos de seus dirigentes, torcedores e imprensa.

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