domingo, 20 de março de 2022

Central campeão da Série B de 1986? Confira os torneios nacionais de acesso não oficiais

Pernambuco é o único estado das regiões norte, nordeste e centro-oeste que conquistou os dois maiores torneios do país, Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. O estado que possui também duas Série C e uma Série B poderia ganhar mais um título da segundona e até mesmo mais uma terceirona. O Brasil é repleto de torneios que ficaram esquecidos no passado, muitos deles de grande apelo técnico e prestígio midiático, logístico, financeiro e social. Buscas por unificações e oficializações são constantes e consultadas por clubes e federações, de troféus nacionais, inter-regionais, regionais e estaduais.

Central exibe o feito com orgulho no Estádio Lacerdão (Foto: Antônio Valdevino / TV Asa Branca)

Atlético-MG buscando seu reconhecimento pela Copa dos Campeões de 1937, Grêmio Maringá cogitando solicitar a oficialização da Copa dos Campeões da CBD em 1969 e unificações de Taça Brasil e Robertão são os mais populares no país, mas abaixando mais o sarrafo, o Central busca há anos a oficialização do título do Torneio Paralelo de 1986, qual o clube diz ser equivalente a Série B. O blog citará alguns torneios que pra muitos poderiam ser considerados títulos brasileiros das Séries B, C e D.

SÉRIE B

1986: Central, Criciúma, Inter de Limeira e Treze

TORNEIO PARALELO DE 1986

Assim como o Central, o Treze celebra o feito em seu estádio
(Foto: Silas Batista / GloboEsporte.com)
Em 1986, oficialmente, a CBF não realizou a Série B e sim um torneio paralelo a Série A do mesmo ano, onde a competição existiu apenas para indicar os 4 clubes que conquistariam o acesso. As 36 equipes foram dividas em 4 grupos de 9, com somente jogos de ida, assim o líder de cada grupo após as 8 rodadas subiria para a elite ainda em 1986. Treze, Central, Inter de Limeira e Criciúma venceram respectivamente os grupos E, F, G e H. Não houve um cruzamento entre os quatro, seja um triangular ou semifinais e o regulamento finalizava o campeonato ali, sem indicar algum critério sobre um campeão, como melhor campanha, por exemplo, fazendo o torneio não tivesse um vencedor. Central e Treze se intitulam campeões, tempo apoio das federações pernambucana e paraibana que já solicitaram as oficializações via ofícios, enquanto a Inter vê a situação de longe tendo possibilidade de pedir o título caso os alvinegros consigam a oficialização. Já o Criciúma não faz muito caso. Porém ao longo da história, os clubes em seus sites já demostraram o sentimento de campeão.

Nessa época, a Série B era chamada de Taça de Prata, diferente da edição que 1986, que mesmo tendo a denominação distinta, possuía moldes similares a segundona. 1986 foi o ano de maior bagunça da história do Campeonato Brasileiro, com regulamentos e outros atos da CBF sendo mudados meio a disputa da Série A. Como por exemplo, Vasco sendo rebaixado para a 2ª divisão de 1987, porém por ações jurídicas, a CBF acabou eliminando a Portuguesa por irregularidade na venda dos ingressos, o que ajudaria o cruz-maltino, mas os clubes de SP não aceitaram a ação da CBF em eliminar a Lusa. No fim, a entidade acabou classificando todos clubes da confusão e o torneio originalmente que deveria ter 32 clubes na disputa da 2ª fase do Brasileirão de 1986 aumentou para 36 times. Ao longo do torneio, o Vasco originalmente rebaixado se safou e assistiu Botafogo e Coritiba caírem pra Série B. Simplesmente regulamentos mudados meio ao torneio. Em 1987 houve o campeonato mais polêmico da história, porém diferente de 86, foi totalmente cumprido pelo regulamento oficial, que até passou por tentativas de mudanças pelo Flamengo, mas sem sucesso.

CBF cita título da Série B conquistado pelo Central
Fonte: print do blog de Esportes do Diario de Pernambuco do jornalista Cassio Zirpoli

A bagunça em 1986 foi além da conta. Além da Série A com diversos escárnios, a CBF criou um campeonato nacional paralelo que não houve campeão, porém em 2016, a CBF em seu site celebrou o aniversário de 97 anos da patativa frisando "o alvinegro tem no currículo um Campeonato Brasileiro Série B", que tempos depois foi apagado da página. O que será que aconteceu com o estagiário autor desse texto?

Sobre um torneio conter mais de um campeão por seu regulamento não prever cruzamento ou fases que decida o campeão entre os melhores, temos um exemplo gigantesto: a Taça Intertoto da UEFA. 3ª maior competição da Europa que chegou a passar por diversas temporadas concedendo 3 títulos paralelos numa mesma edição, inclusive na era moderna, em meados dos anos 2000. Clubes como Juventus, PSG, Newcastle, Marseille e Villarreal tiveram seus títulos 'divididos' com 2 ou 3 clubes, sem perder prestígio.

1987: Americano-RJ e Operário-MS

MÓDULO AZUL (TROFÉU HELENO NUNES) E BRANCO (TROFÉU RUBEM MOREIRA) DA SÉRIE B DE 1987

Em seu site oficial, o Operário se consagra campeão da Série B de 87
Imagem: Reprodução
Diferente da Série A, a Série B de 1987 não houve cruzamento de módulos para decidir o campeão da segundona. A 1ª fase contou com 12 grupos de 4 times cada, sendo 6 grupos no Módulo Azul (A, B, C, D, E e F) e outros 6 grupos no Módulo Branco (G, H, I, J, K e L). Se classificando os 2 melhores de cada grupo para a 2ª fase, com 12 times se enfrentando no mata-mata, sobrando 6, que na 3ª fase passou por mais um mata-mata, sobrando 3. Assim sendo disputado um triangular para decidir os títulos dos módulos. O Americano-RJ superou Uberlândia-MG e Juventude no Módulo Azul, enquanto no Módulo Branco, o Operário-MS foi vencedor ante Paysandu e Botafogo-PB.

A CBF poderia simplesmente espelhar a Série B de 1987 como a própria Série A, com os líderes dos módulos se enfrentando no cruzamento, porém no regulamento ali era o fim do torneio. Fazendo que o clube carioca e o clube sul-mato grossense fossem os campeões dos módulos referentes ao torneio.

SÉRIE C

1993: 14 equipes venceram suas chaves e foram 'campeões' até o limite dos regulamentos dos torneios, assim como nas Séries B de 1986 e 1987. América de São José do Rio Preto, Ponte Preta, Bangu, Londrina, Barra do Garças, Tuna Luso, Moto Club, América-RN, CRB, Central, Sergipe, Goiatuba, Tiradentes e Mogi Mirim seriam os comtemplados com o título da terceirona.

Em 1993, a CBF promoveu 12 clubes da Série B para a Série A naquele mesmo ano, assim, a Série B de 1993 não foi realizada pela falta de clubes na disputa. A segundona de 1994, que teria 24 clubes, contava apenas com a certeza dos 8 rebaixados da elite no ano anterior, sobrando 16 vagas. Para preencher essas vagas, a CBF criou o Torneio Qualificatório. Cada estado/região tinha sua totalidade de vagas e assim cada federação montava seu regulamento para definir seus representantes. Existiu variação de número de clubes, formatos e critérios.

QUALIFICATÓRIO PARA A SÉRIE B DE 1994 (15 vagas + 1 por punição)

Os grupos, seus campeões e os clubes que conquistaram as vagas:

GRUPO A: América de São José do Rio Preto (vencedor do A1) e Ponte Preta (vencedor do A2)
GRUPO B: Bangu e Americano*, respectivamente líder e vice-líder do quadrangular final
GRUPO C: Londrina e Juventude*, líder e vice líder do triangular final
GRUPO D: Barra do Garças, vencedor da final contra o Nacional-AM
GRUPO E: Tuna Luso líder do quadrangular
GRUPO F: Moto Club, vencedor da final contra o Ríver-PI
GRUPO G: América-RN, líder do pentagonal
GRUPO H: CRB, líder do pentagonal
GRUPO I: Central, líder do triangular
GRUPO J: Sergipe, líder do quadrangular
GRUPO L: Goiatuba, líder do quadrangular
GRUPO M: Tiradentes, vencedor da final contra o Democrata-MG**

*clubes que conquistaram as vagas mas não foram os 'campeões' de seus grupos
**Derrotado na final do grupo M, o Democrata-MG acabou conquistando a vaga pois o América-MG foi punido pela CBF ficando de fora de torneios nacionais por 2 anos, assim o segundo melhor da chave entre mineiros e candangos (Grupo M) ficaria com a vaga que o coelho deixou após punição

TORNEIO RICARDO TEIXEIRA (1 vaga)

Paralelo ao Qualificatório, o torneio que foi chamado por alguns como "Rio-São Paulo dos pobres" se dividiu em duas chaves de 4 times, sendo representantes do Rio de Janeiro em um e de São Paulo em outro. Bangu e Mogi Mirim realizam o cruzamento e os paulistas sagraram-se vencedores.

FINAL: Mogi Mirim, vencedor contra o Bangu

De fato o Torneio Ricardo Teixeira era uma competição paralela ao Qualificatório que a CBF, porém tinha os mesmos moldes dos 11 grupos do torneio oficial da entidade, podendo tranquilamente ser considerado o Grupo N.

SÉRIE D

TORNEIO SELETIVO DA SÉRIE C DE 1990

Nos moldes parecidos com o Qualificatório para a Série B de 1994, este torneio definia as 15 vagas para disputar a Série C de 1990, com cada federação estadual sendo responsável por seus critérios, regulamentos e formatos.

BAHIA: Fluminense-BA, vencedor do quadrangular
DISTRITO FEDERAL: Gama, vencedor do quadrangular
GOIÁS: Atlético-GO e Vila Nova*, líder e vice lider do triangular respectivamente
MINAS GERAIS: América-MG e Esportivo de Passos*
PARÁ: Paysandu, vencedor da final contra o Tuna Luso
PARAÍBA: Campinense, vencedor do triangular
PARANÁ: Paraná Clube e União Bandeirante*, líder e vice-líder respectivamente do quadrangular
RIO GRANDE DO NORTE: América-RN, líder do triangular
SÃO PAULO: América de São José do Rio Preto e Ponte Preta, líderes dos grupos A e B, respectivamente

*conquistou a vaga mas não venceu o torneio

CAMPEÕES NACIONAIS EM CASO DE OFICIALIZAÇÃO DESSES TORNEIOS:

SÉRIE B DE 1986: Central, Criciúma, Inter de Limeira e Treze
SÉRIE B DE 1987: Americano-RJ e Operário-MS
SÉRIE C DE 1993: América de São José do Rio Preto, Ponte Preta, Bangu, Londrina, Barra do Garças, Tuna Luso, Moto Club, América-RN, CRB, Central, Sergipe, Goiatuba, Tiradentes e Mogi Mirim
SÉRIE D DE 1990: Fluminense-BA, Gama, Atlético-GO, América-MG, Paysandu, Campinense, Paraná Clube, América-RN, América de São José do Rio Preto e Ponte Preta

30 títulos de 4 competições de 3 divisões diferentes para 26 clubes.

OS MAIORES BENEFICIADOS

O Central Sport Club, clube de Caruaru, no interior de Pernambuco seria o maior vencedor no final das contas, pois teria as conquistas do Brasileirão das Séries B e C, sendo o primeiro clube de seu estado a conquistar um título nacional, feito esse que pertence ao Sport, campeão brasileiro em 1987, igualando o próprio Sport em título de Série B, conquistado pelo leão em 1990, além de se tornar pioneiro estadual em conquista da terceirona, competição que Santa Cruz e Náutico venceram respectivamente em 2013 e 2019.

O América de São José do Rio Preto, o América-RN e a Ponte Preta se tornariam campeões da 3ª e 4ª divisões. O primeiro tem em suas maiores conquistas a Série A2 do Paulistão de 1957, 1963 e 1999 e daria um salto em sua galeria de troféus, com duas conquistas nacionais. Já clube de Natal que detém o único título da Copa do Nordeste de seu estado, se igualaria com o rival ABC, campeão da Série C em 2010 e ainda colocando uma taça da quarta divisão na galeria. Enquanto a macaca enfim levantaria um troféu além das Séries A2 vencidas em 1927, 1933 e 1969, fazendo que Campinas obtivesse títulos das séries A e B (Guarani em 1978 e 1981) e C e D (Ponte em 1993 e 1990).

COMO FICARIA O QUADRO NACIONAL DE PERNAMBUCO E DO NORDESTE?

Títulos nacionais de Pernambuco:

Campeonato Brasileiro: Sport (1987)
Copa do Brasil: Sport (2008)
Série B: Sport (1990)
Série C: Santa Cruz (2013) e Náutico (2019)

5 títulos: 2 de elite e 3 de acesso

Títulos nacionais não-oficiais de Pernambuco:

Torneio Paralelo (Série B): Central (1986)
Qualificatório Taça Ouro: Sport (1980)** e Náutico (1981)**
Qualificatório para a Série B (Série C): Central (1993)

4 títulos: 4 de acesso

**Em 1980, a Série B dava acesso para a Série A do mesmo ano. Cada líder dos 8 grupos da 1ª fase passaram para a fase de acesso a elite em formato vencedor do grupo A x grupo B, grupo C x grupo D e assim sucessivamente. Americano-RJ, América-SP, Sport e Bangu venceram Paysandu, Juventus-SP, Anapolina e Uberlândia e disputaram a Série A ainda em 1980. A CBF concedeu um troféu simbólico para os 4 'campeões'. É totalmente igual aos moldes da Série B de 86 em que o Central se diz campeão, porém os 4 perdedores se juntaram com os demais times do torneio para dar prosseguimento a segundona, que foi vencida pelo Londrina, que junto com o vice CSA, garantiram o acesso pro ano seguinte. Em 1981 a Série B seguiu os mesmos moldes e ao lado de Bahia, Palmeiras e Uberaba, o Náutico sagrou 'campeão' da qualificatória ao vencer um dos 4 triagulares e assim disputou a elite do mesmo ano.

Títulos nacionais do Nordeste:

Campeonato Brasileiro: Bahia (1959 e 1988) e Sport (1987)
Copa do Brasil: Sport (2008)
Troféu Roberto Gomes Pedrosa: Sport (1987)
Série B: Sampaio Corrêa (1972), Sport (1990) e Fortaleza (2018)
Série C: Sampaio Corrêa (1997), ABC (2010), Santa Cruz (2013), CSA (2017) e Náutico (2019)
Série D: Guarany de Sobral (2010), Sampaio Corrêa (2012), Botafogo (2013) e Ferroviário (2018)

17 títulos: 5 de elite e 12 de acesso

Títulos nacionais não-oficiais do Nordeste:

Torneio Paralelo (Série B): Central (1986) e Treze (1986)
Qualificatório Taça Ouro: Sport (1980), Náutico (1981) e Bahia (1981)
Qualificatório para a Série B (Série C): América-RN (1993), Central (1993), CRB (1993), Moto Club (1993) e Sergipe (1993)
Torneio Seletivo da Série C: América-RN (1990)Campinense (1990), Fluminense-BA (1990)

13 títulos: 13 de acesso

SPORT, CEARÁ E FORTALEZA CAMPEÕES BRASILEIROS DE 1968, 1969 E 1970?

Nas edições de 1968, 1969 e 1970, a CBD organizou o Torneio Norte-Nordeste, que era uma competição paralela ao Robertão, um inter-regional do eixo sul que tinha seus participantes via convite e que em 2010 foi unificado como Campeonato Brasileiro junto a Taça Brasil. Sport, Ceará e Fortaleza, campeões do 'Robertão do Norte' poderiam buscar essa justiça junto a CBF, tornando o Norte-Nordeste equivalente ao Robertão por direito, assim como é de fato. Confira mais detalhes aqui.

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