domingo, 15 de outubro de 2023

Supercopa do Nordeste 2024: 30 anos de Orgulho, Identidade & Resistência

Meio a dimensão continental, o Brasil leva consigo diversos "países" que formam suas próprias culturas, identidades, trejeitos, políticas, visões e tantos outros aspectos que dão a um povo o seu ar de pertencimento e união. No país, nada é mais antigo, forte e genuíno que o 'Povo Nordestino', uma categoria social que explana passado, presente e futuro repleto de detalhes positivos e negativos, vindo do próprio povo e de povos alheios, mas que no fim, gera um extrato de resistência e felicidade pelo simples fato de nascer em um dos 9 estados arretados.

O futebol é um dos maiores termômetros sociais do Brasil e nele não poderia ser diferente. A Copa do Nordeste é quase a representação do que podemos tratar como Liga Nacional do Nordeste-Brasileiro, com um valor interno que molda nossos status, rivalidades e sensações. O projeto da Lampions também traz resquícios da resistência e de luta para existir. Nos anos 80, Luciano Bivar, então dirigente do Sport, junto a Federação Pernambucana, batalhou pela volta de competições inter-regionais ou regionais meio ao período de confusões na CBD/CBF, com calendários nacionais bagunçados, influência militar no Campeonato Brasileiro e falta de planejamento para nacionalização ideal de todos os níveis do futebol. Tudo isso já eram amostras de como o futebol nordestino sofria com o esquecimento por parte dos que comandavam o futebol brasileiro.

O vergonhoso Campeonato Brasileiro de 1986 foi extremo e "ajudou" a gerar a bagunça extra-esportiva de 1987 e consequentemente a metodologia da verdadeira elite nacional, sem ligação estadual, a partir de 1988. Com isso, alguns estados do Nordeste que já não contavam com ajuda dos organizadores nacionais ficaram ainda mais para trás. Surgiu a Copa do Brasil em 1989, com um intuito prático similar a Taça Brasil (1959-1968), onde todos os estados garantiam disputas nacionais de elite, mas não era suficiente. Os clubes e federações norte-nordestinas acumulavam décadas de disputas interestaduais para tentar a formação de uma disputa das regiões. Campeões do Nordeste (1939), Copa Cidade de Natal (1946), Torneio dos Campeões do Nordeste (1948), Torneio dos Campeões do Norte e Nordeste (1952) e o Torneio Hexagonal do Norte-Nordeste (1967) são exemplos dessa tese, mas foi em 1994 que os embriões geraram frutos e o Brasil passou a ter no Nordeste, uma nova ordem em seu calendário nacional.

Em 1994, a Federação Pernambucana - que já vinha tentando formação de Nordestão há uma década - junto ao Governo de Alagoas, firmou uma parceria para a organização da Taça Governador Geraldo Bulhões, a “1ª Copa do Nordeste”, sendo essa a finalidade da competição desde o seu lançamento. O Nordestão daquele ano foi organizado também pela Federação Alagoana e todo o certame foi disputada em Alagoas. Seu sucesso rendeu a chancela da CBF e colaborou para a volta em 1997 e até 1999, o campeão disputava a Copa Conmebol, precursora da Copa Sudamericana. Entre 2000 e 2002, seu vencedor, vice e terceiro colocado ganhava a vaga para a Copa dos Campeões, disputando o título nacional contra os melhores dos demais regionais. Em 2003, o futebol brasileiro passou por uma reformulação de calendário, com a Série A sendo disputada em pontos corridos, fim da Copa dos Campeões e inicio de desprezo da CBF com o Nordestão, que teve ali o seu último ano de disputa.

1994: CRB x Sport, final da primeira Copa do Nordeste

Em todos anos de disputa, o Nordestão foi de extremo sucesso técnico, popular, publicitário e financeiro, ganhando força e relevância fora da região, mas nem mesmo o fator de crescimento do futebol brasileiro oriundo da competição fizeram os cartolas nacionais priorizarem a continuidade. Com ações judiciais e negociações entre clubes, federações e a CBF, o certame volta em 2010, mas é em 2013 que a fortaleza nordestina se opõe, com a garantia de pelo menos 10 temporadas de disputa até 2022. Com alguns anos premiando o campeão com vaga na Sudamericana, pra final do título amistoso da Taça Asa Branca e com a vaga direta à 3ª fase da Copa do Brasil. Como nos primeiros anos, o sucesso e relevância nacional é evidenciado, desta vez num mundo mais tecnológico e globalizado, com a internet promovendo e incluindo o público não nordestino na roda de conversa. A CBF não valorizar a Copa do Nordeste agora seria quase que um crime na visão de todo o pais, porém em 2023, eis a confirmação e de vez a competição é firmada no calendário nacional.

Em 2024 completará 30 anos da Copa do Nordeste. Não necessariamente 30 anos de resistência, pois a luta existe antes mesmo do profissionalismo do futebol brasileiro, mas são 3 décadas de uma afirmação de como a competição é grande e necessária para o Brasil. São muitas formas de comemorar e uma das ideias seria a disputa da Supercopa do Nordeste, uma copa de tiro curto reunindo os 9 campeões do Nordestão, dando o título de supercampeão regional.

Em toda história, existiram várias competições reunindo campeões históricos para celebrar datas ou gerar disputa ainda mais elevada. Exemplos:

Copa dos Campeões do Norte de 1966: Os clubes campeões da Taça Norte formularam a taça em formato de campeonato, que reuniu os campeões do inter-regional anexo à Taça Brasil. Bahia, Fortaleza, Sport, Ceará e Náutico jogaram entre si em ida e volta e o líder tornou-se campeão, o Náutico.
Supercopa de Campeões Intercontinentais (1968-1969): UEFA e Conmebol organizaram um certame com a representação de todos os campeões da Copa Intercontinental.
Copa dos Campeões da Copa Brasil de 1978: Meio aos planejamentos de estender o calendário nacional, de criar uma disputa de segundo escalão e de render mais finanças, a CBD criou uma supercopa reunindo todos os campeões do Brasileirão, oficialmente chamado então de 'Copa Brasil'. O Atlético-MG levou.
Mundialito de 1980: Para celebrar os 50 anos da Copa do Mundo, a Associação Uruguaia de Futebol organizou a Copa de Ouro dos Campeões Mundiais, um campeonato reunindo todos os campeões mundiais. Os uruguaios sagraram-se campeões.
Torneio dos Campeões da CBF de 1982: Após o fim do Brasileirão, a CBF criou um certame nacional pré-Copa do Mundo para dar continuidade as disputas nacionais. Contou com os clubes campeões e vices históricos do Brasileirão, Taça Brasil, Robertão e do Torneio Rio-São Paulo, além dos não campeões e vices com mais participações na Série A.
Supercopa Libertadores (1988-1997): Em uma das múltiplas formas da Conmebol planejar certames de segundo escalão continental, a entidade realizou a disputa da Supercopa João Havelange, que reunia todos os campeões máximos da América do Sul, ou seja, da Libertadores desde 1960 e do Sul-Americano de 1948.
Copa Master da Supercopa (1992-1995): Uma espécie de supercopa-supercopa. Reunindo campeões de uma competição que reunia competições de outro certame. A Conmebol coligia todos os campeões da Supercopa Libertadores da história.
Copa dos Clubes Brasileiros Campeões Mundiais (1995-1997): Organizada pela rede televisiva SBT e pela CBF, foi um torneio nacional que reuniu todos os clubes brasileiros campeões da Copa Intercontinental.
Copa Master da CONMEBOL (1996): A entidade máxima sul-americana reuniu todos os campeões da Copa Conmebol para disputarem entre si uma supercopa entre os campeões da competição de segundo escalão.

Históricos mundiais, continentais, nacionais e até mesmo nordestinos sobre Supercopas não faltam. São 9 campeões e possibilidades para criar a competição com tiro curto. Vamos a um exemplo de como poderia ser disputada a Supercopa do Nordeste em formato e critérios:

Campeões da Copa do Nordeste:

Vitória: 4 (1997, 1999, 2003 e 2010)
Bahia: 4 (2001, 2002, 2017 e 2021)
Sport Recife: 3 (1994, 2000 e 2014)
Ceará: 3 (2015, 2020 e 2023)
Fortaleza: 2 (2019 e 2022)
América-RN: 1 (1998)
Campinense: 1 (2013)
Santa Cruz: 1 (2016)
Sampaio Corrêa: 1 (2018)

Com 9 clubes, a Supercopa do Nordeste seria disputada em mata-mata, com distribuição de chaveamento olímpico. Em ordem, os maiores campeões do Nordestão num ranking histórico:

1) Bahia: 4 títulos e 5 vices
2) Vitória: 4 títulos e 3 vices
3) Sport Recife: 3 títulos e 4 vices
4) Ceará: 3 títulos e 2 vices
5) Fortaleza: 2 títulos
6) Campinense: 1 titulo e 1 vice
7) Santa Cruz: 1 título, 1x terceira colocação e 3x quarta colocação
8) América-RN: 1 título, 1x terceira colocação e 1x quarta colocação
9) Sampaio Corrêa: 1 título

Oitavas de finais:
1: América-RN x Sampaio Corrêa

Quartas de finais:
1: Bahia x vencedor das oitavas 1
2: Vitória x Santa Cruz
3: Sport Recife x Campinense
4: Ceará x Fortaleza

Semifinais:
1: vencedor das quartas 1 x vencedor das quartas 2
2: vencedor das quartas 3 x vencedor das quartas 4

Final:
vencedor da semifinal 1 x vencedor da semifinal 2


Muitos outros detalhes seriam trabalhos, de forma logística, comercial e esportiva, como as sedes dos jogos, os estádios utilizados, a exposição das taças dos campeões e muito mais. Não faltam pessoas e personagem em vida e em memória para serem homenageados e grandes ícones para colaborarem culturalmente e esportivamente com o evento. Seria um grande título e um carimbo para festejar o valor e a soberania da terra que embeleza o esporte nacional. A imponência da competição, a qual representa uma resistência, merece e precisa de uma grande comemoração.

É essencial que fique claro que essa seria uma competição oficial, especial, porém extraordinária. A definição do campeão regional do Nordeste viria da Copa do Nordeste 2024 e não da Supercopa, como por exemplo o cenário de Minas Gerais em 2002, onde o Cruzeiro sagrou-se campeão do Super-Campeonato Mineiro, mas o campeão do estado de MG daquele ano foi a Caldense, pelo título estadual.

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