Ele é um dos maiores nomes da história da Bundesliga, um ícone de oportunismo e brilhantismo na Alemanha, um rei em Dubai e um símbolo de gols, acesso, títulos e a cima de tudo, amor incondicional ao Santa Cruz Futebol Clube. Grafite, o Graffa, um dos mais supremos ídolos de Pernambuco.
Em 2001 e 2002, Grafite começou sua história no Santa Cruz, fazendo poucos gols e nunca sendo protagonista da equipe e naturalmente foi passando por outros clubes, até chegar no São Paulo e conseguir o estrelato, conquistando a Libertadores da América e o Mundial de Clubes, escrevendo seu nome e chamando atenção da Europa, estreando no solo do velho continente pelo Le Mans/FRA, antes de transferir-se e marcar época no Wolfsburg/ALE. De 2007 a 2011 atuando no time da terra da Volkswagen, o atacante conquistou vaga na Champions League, depois foi campeão da Bundesliga e artilheiro do campeonato com 28 gols e ao lado de Edin Dzeko, seu maior parceiro em toda carreira, bateu o recorde nada mais nada menos que de Gerd Müller e Uli Hoeness, totalizando 54 gols entre a dupla, que é considerada pela Federação Alemã, como a maior dupla de ataque da história do Campeonato Alemão.
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Edin Dzeko e 'Edinaldo' Grafite, a maior dupla de ataque da história da Bundesliga. Foto: Getty Images |
O 'G23' também chegou a Seleção Brasileira, compondo o grupo do técnico Dunga na Copa do Mundo de 2010 e de 2011 a 2014, foi ídolo máximo no Al-Ahli, fazendo com que seus gols e identificação com a torcida fizesse que até nos dias atuais, páginas e perfis em sites e redes sociais estejam presentes na internet para veneração do ídolo brasileiro.
Em 2015, aos 36 anos, Grafite voltou ao Brasil e claro, um nome respeitado na Europa e reconhecido em seu país iria ter propostas de gigantes, o que aconteceu, o atleta recebeu convite para acertar com o Vasco, mas os cruzmaltinos e todos os outros clubes e torcedores que desejavam em vê-lo no seu time não imaginavam que o pensamento do atacante estava voltado apenas em voltar a representar uma nação que o tanto respeita e sonhava em ver no Arruda, a torcida coral. Mesmo com o tricolor na segunda divisão, sem o favoritismo no papel, na estrutura e nas finanças para conseguir o acesso, o ídolo acertou com o clube que ama, fazendo a festa na sua apresentação e começando daí uma atmosfera incrível, com gol na estreia diante de um jogo gigante contra o Botafogo, gols e mais gols e pra coroar, o tão sonhado acesso. Era Grafite liderando o time que colocou o clube de volta a Série A após 9 temporadas.
Em 2016, 'o cara' continuou e pra agigantar ainda mais seu nome na história da instituição, conquista o maior título do Santa Cruz em 101 anos de vida, a Copa do Nordeste e uma semana depois, levanta a taça do Campeonato Pernambuco em cima do maior rival, o Sport, fazendo a torcida coroar ainda mais o experiente avançado. No Brasileirão, o time foi rebaixado, mas o atacante finaliza o torneio na vice-liderança da artilharia, com 13 gols, uma marca incrível para um futebolista de 37 anos e que disputou o campeonato mais difícil do país com um elenco extremamente limitado.
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Taças, gols e idolatria é sinônimo de Grafite pela cobra coral. Foto: Ricardo Fernandes/Diário de Pernambuco |
Com o Santa rebaixado e seu nome ainda em alta, Grafite acertou com o Atlético/PR, para a disputa da Libertadores de 2017, onde o mesmo fez gol da vitória por 1 a 0 contra o Millionarios/COL pela fase pré, mas desde lá nunca conseguiu apresentar um futebol aceitável ao nível do Furacão e não permanece no time de Curitiba. Graffa fica sem clube e livre no mercado, e acerta pela terceira vez com o Santa Cruz, juntando o amor pela instituição e a vontade de tirar o time da catastrófica situação de ameaçado a cair para a terceira divisão.
Grafite tem nome e respeito por onde passou, um ser humano influente e que no futebol sempre transmitiu a junção da mais pura ética humana e beleza técnica e porque arriscaria essa deferência nacional com a possibilidade de ser rebaixado para a Série C do Brasileirão? Amor, apernas amor. Ele sabia que a gestão passava por problemas em todas as áreas: salários de jogadores e funcionários atrasados, elenco limitado, baixo público e o pior, uma torcida que não gostaria de passar pelo mesmo 'inferno' que passou na própria década. Os dias foram passando, o time caindo a cada rodada, mas Grafite sempre de cabeça erguida, dando a cara para os torcedores, explicando e cedendo sua palavra para seus fãs, fazendo papel de líder, capitão e até ações que dirigentes deveriam fazer e honrando companheiros, direção e os correligionários tricolores, em meio a um cenário de crise, com direção prometendo em diversas oportunidades os pagamentos de salários em tal dia e sempre adiando, adiante prometendo em outra data e novamente não cumprindo, ridicularizando a imagem do clube para imprensa, jogadores, empresários e torcedores.
2017 acabou de forma trágica, o pior ano da carreira do atacante. Uma temporada de jogos que demostraram seu esgotamento físico, que fizeram o seu rendimento dentro de campo por Santa e Atlético não ser o ideal para os clubes e o certo brilho nos olhos dos brasileiros se ofuscarem um pouco a mais com a sua história no esporte. Mais uma vez rebaixado, dessa vez para a 'terceirona', ele adiou sua aposentadoria e por uma incansável, obsessiva e imortal paixão pelo clube, deseja continuar para contribuir na reconstrução e devolução do Santa Cruz para a Série B.
O torcedor coral tem consciência de que Grafite marcou uma geração e é um dos grandes ídolos do 'Santinha', mas talvez não tenha a ideia da representatividade do amor, da paixão, da loucura sentimental que o jogador tem pelo clube. Talvez em Pernambuco ou no Brasil, nunca tivemos um jogador com uma reputação tão imensa como a dele que volta e deseja continuar num clube com deficiências profissionais, estruturais e financeiras como a do Santa Cruz, abrindo mão de encerrar uma carreira sem decadências, só para vivenciar o dia a dia e respirar o ar que bate e corre no Estádio José do Rego Maciel.
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